Caracterizam pela primeira vez a estrutura da aspirina gasosa
Cristina G. Pedraz/DICYT Pesquisadores do Grupo de Espectroscopia Molecular (GEM) da Universidade de Valladolid conseguiram caracterizar pela primeira vez a estrutura da molécula da aspirina (ácido acetilsalicílico) na fase gasosa. O estudo, publicado recentemente em uma das revistas de química mais importantes internacionalmente, Angewandte Chemie, permite ampliar a Ciência a respeito do medicamento, um dos mais antigos e conhecidos do mundo que é utilizado como antiinflamatório, como analgésico para aliviar dores leves e moderadas, para reduzir a febre ou como antiagregante plaquetário em pacientes com risco de formação de trombose sangüínea.
Segundo explicou a DiCYT o pesquisador do GEM Carlos Cabezas, a caracterização da estrutura da aspirina na fase gasosa “é algo que não havia sido realizado nunca, já que a aspirina é um sólido, mas nós temos uma técnica que permite vaporizar sólidos com alto ponto de fusão, de 150-200 graus centígrados, além de caracterizar o espectro de rotação desses sólidos que já estão no estado gasoso através de espectroscopia de microondas”.
Conforme detalha, este estudo da fase gasosa permite caracterizar a estrutura molecular da aspirina sem interações com outras moléculas. “Em uma dissolução, por exemplo, colocaríamos a aspirina em um líquido e então as moléculas interagiriam com as da água, como a molécula da aspirina em sólidos interage com outras moléculas de aspirina e não conserva suas propriedades intrínsecas”, enfatiza o especialista.
Tecnologia pioneira
Para realizar o estudo, o Grupo de Espectroscopia Molecular combina uma tecnologia denominada ablação laser, que é utilizada para vaporizar o sólido, com a técnica do jet supersônico, consistente de modo geral “na expansão de um gás que está concentrado a alta pressão em uma câmara a vácuo”. Quando as moléculas do sólido vaporizado estão em “expansão supersônica”, detalha, “encontram-se isoladas, isso é, não podem interagir entre elas”. A molécula adota assim “uma forma que não adotaria quando está em contato com outras moléculas”, o que revela “qual é sua estrutura intrínseca”, ou como se comporta quando está sozinha.
Sobre esta tecnologia, que combina três técnicas diferentes, o pesquisador afirma que o grupo é pioneiro no mundo. A primeira delas, a ablação laser, “cria um pulso de luz de alta energia concentrado em uma superfície muito pequena, o que produz efeitos térmicos na amostra arrancando matéria de sua superfície”. Segundo afirma, utiliza-se a ablação laser porque diferentemente de outras técnicas “permite obter essas moléculas sem desfazer nenhum enlace”. A terceira, “e talvez a mais importante”, é a espectroscopia de microondas, “que serve para caracterizar moléculas, complexos ou espécies em fase gasosa”.
Outro aspecto importante, agrega, é a utilização de laseres de picosegundos. Dentro dos laseres é possível criar pulsos da ordem de nanosegundos, pico e pectosegundos, “cerca de mil vezes menores entre eles”. “No estudo da aspirina utilizamos laseres de psicosegundos e notamos que o processo de ablação, isso é, de vaporização da amostra, é muito mais efetivo porque o pulso é mais curto”, indica. Através do projeto o laboratório foi capaz de incorporar este tipo de dispositivo, que requer um importante investimento tecnológico.
Plano Nacional
O trabalho da aspirina faz parte de um amplo projeto do Plano Nacional coordenado pelo GEM desde 2000, focado no estudo estrutural dos 20 aminoácidos naturais, de bases nitrogenadas e neurotransmissores, os denominados “ladrilhos da vida”, bem como de outras moléculas de interesse como a própria aspirina ou o paracetamol.