Descobrem bactéria com potencial antibiótico no mar da Madeira
UP/DICYT Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da U.Porto (CIIMAR) e do Observatório Oceânico da Madeira/Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, identificou duas novas estirpes de bactérias no mar profundo da Madeira, ambas pertencentes ao género Streptomyces, um dos grupos de bactérias que mais tem contribuído para a produção de antibióticos. Os investigadores sequenciaram e estudaram os genomas das duas bactérias e descobriram que uma delas, a MA3_2.13, parece ter um grande potencial para estudo de novos fármacos.
As duas novas bactérias – a S07_1.15 e a MA3_2.13 – descritas num estudo recentemente publicado na revista Marine Drugs vieram de uma colheita no mar profundo da Madeira, que, por ser ainda pouco explorado, estará cheio de “tesouros” para a medicina.
E se a S07_1.15 revelou ser – pela sequenciação e caracterização do respetivo genoma – uma estirpe da já conhecida Streptomyces xinghaiensis, já a MA3_2.13 é suficientemente diferente para poder ser proposta como nova espécie de Streptomyces. “Há toda uma região no genoma que apresenta potencial metabólico para a produção de novos compostos, diferente do que existe nas coleções de bactérias que conhecemos”, sublinha Marta Vaz Mendes, coordenadora do estudo e investigadora do grupo Bioengineering & Synthetic Microbiology do i3S.
“Existe, de facto, um potencial para a descoberta de novos antibióticos com esta nova estirpe”, reforça. Com efeito, “os primeiros dados apontam para a produção de compostos com estruturas químicas únicas e com potencial relevância farmacológica”, adianta Marta Vaz Mendes.
Ainda antes de se considerar uma produção mais alargada, os investigadores vão agora avançar para a segunda etapa deste tipo de estudos, que consiste em cultivar a bactéria em condições que a levem a produzir esses metabolitos e avaliar o seu potencial e a sua toxicidade.
A urgência de novos antibióticos
A primeira substância com efeito antibiótico que o mundo conheceu, nos anos 20 do século XX, foi a penicilina, mas só nos anos 40 é que se tornou uma realidade à escala industrial para fins terapêuticos. Os antibióticos foram uma das descobertas que mais revolucionou a medicina do séc. XX, permitindo a sobrevivência a infeções que até então poderiam ser fatais. A aplicação destes compostos acabou mais generalizada, nomeadamente na agropecuária intensiva. Todas estas práticas têm o seu custo: muitos dos microorganismos infeciosos adaptaram-se e começaram a resistir aos antibióticos de uso mais corrente. Perante isto, é urgente encontrar novos antibióticos que sejam uma alternativa eficaz contra os organismos multirresistentes que começam a surgir.
Um pouco por todo o mundo, investigadores vão isolando novas estirpes de bactérias, oriundas dos locais mais inusitados, para isolar novos metabolitos secundários (compostos químicos produzidos por um determinado organismo) com potencial terapêutico.
Uma das maiores fontes de novos metabolitos é precisamente o género Streptomyces, um grupo de bactérias que vive no solo e em locais com água, e que dispõe de um arsenal de metabolitos que liberta sempre que tem que defender o seu território de outros micro-organismos.