Descobrem proteína que tem uma função protetora contra o cancro da mama
José Pichel Andrés/DICYT Uma investigação da Universidade da Beira Interior publicada na revista científica ‘Experimental Cell Research’ mostra que uma proteína conhecida como ‘regucalcina’ tem efeitos protetores contra o cancro da mama. Os experimentos foram realizados em modelos animais e abrem a porta à utilização desta molécula para a prevenção de tumores ou para o desenvolvimento de terapias.
O estudo mostrou que ratos com níveis aumentados de regucalcina apresentam menor suscetibilidade a desenvolverem tumores de mama, ou seja, “são mais resistentes ao cancro”, explica a DiCYT Sílvia Socorro, cientista do Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (CICS-UBI). Além disso, os poucos tumores que apareceram nestes animais geneticamente modificados apresentavam características menos agressivas, a maioria deles tumores não invasivos.
A regucalcina foi identificada pela primeira vez como uma proteína de ligação ao cálcio, mas, mais recentemente, os cientistas do CICS-UBI e outros grupos de investigação demonstraram que tem outras importantes funções biológicas, ao estar envolvida no controlo da proliferação e morte celular ou exercer uma função antioxidante. De acordo com os especialistas, tudo se encaixa perfeitamente com o papel de proteção contra o cancro descoberto agora e que se poderia extrapolar para os seres humanos.
De facto, os casos de cancro da mama humanos têm níveis muito baixos de regucalcina e enquanto o tumor progride, os níveis diminuem ainda mais. Isto leva os investigadores a considerar que, como no presente estudo, o aumento da presença desta proteína pode ter um efeito protetor contra a carcinogénese mamária nas mulheres.
Além disso, os cientistas da UBI têm indícios de que podem ter um efeito similar em outros tipos de cancro, particularmente no cancro da próstata. “Estudos anteriores do nosso grupo de investigação mostraram que a regucalcina também apresenta a sua expressão diminuída no carcinoma da próstata", afirma a investigadora. Do mesmo modo, o grupo conseguiu demonstrar que a proteína impede a proliferação das células deste tumor.
Perante estes resultados, os cientistas acham que seria possível desenvolver tratamentos ou medidas preventivas baseados no uso de regucalcina, pelo menos “conceitualmente”, porque realmente serão precisos anos de estudos para os desenvolver e testar a sua segurança e eficiência.
Por agora, nos próximos passos da investigação irão caracterizar as vias de ação da proteína dentro da célula e testar métodos diferentes para silenciar ou aumentar a sua expressão em células humanas. Assim, os investigadores verificarão se os efeitos observados em animais são confirmados. “A partir daí poderemos começar a pensar em estratégias para administrá-la como uma opção terapêutica ou preventiva”, assegura Sílvia Socorro.
Referências bibliográficas | |
Histopathological and in vivo evidence of regucalcina as a protective molecule in mammary gland carcinogenesis. Ricardo Marques, Cátia V. Vaz, Cláudio J. Maia, Madalena Gomes, Adelina Gama, Gilberto Alves, Cecília R. Santos, Fernando Schmitt, Sílvia Socorro. Experimental Cell Research, Volume 330, Issue 2, 15 January 2015, Pages 325–335. doi:10.1016/j.yexcr.2014.08.007
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