Health Spain , León, Monday, July 05 of 2010, 17:45

Encontrado alvo terapêutico que diminui o risco de fibrose associada à doença de Crohn

Pesquisadores espanhóis do Ibiomed e de dois centros brasileiros empregam glutamina no tratamento experimental da enfermidade intestinal

Antonio Martín/DICYT A glutamina é um aminoácido que constitui uma fonte de energia importante para as células do intestino. Sua importância no metabolismo destas células epiteliais, denominadas enterócitos, aumenta quando submetidas a estresse. Um grupo de pesquisadores espanhóis e brasileiros descreveu agora uma nova propriedade. Cientistas do Instituto de Biomedicina da Universidade de León (Ibiomed), da Universidade Luterana do Brasil e do Hospital das Clínicas de Porto Alegre revelaram que a glutamina é um importante alvo terapêutico para diminuir o risco de fibrose associada à doença de Crohn, enfermidade inflamatória intestinal cuja incidência na Espanha é de 0,5 a 0,8 novos casos para cada 100.000 habitantes.

 

A doença de Crohn é “uma das duas formas mais importantes de doença inflamatória intestinal”, explica a DiCYT María Jesús Tuñón, coordenadora do grupo espanhol focado no estudo das doenças hepáticas e digestivas. Ainda que conhecida há 100 anos, sua etiologia e patogênese seguem sem solução. Sabe-se que há três fatores implicados: as interações do sistema imunitário, a suscetibilidade genética e o ambiente. O fato de que estejam implicados certos genes provoca, por exemplo, que existam mais casos entre indivíduos brancos e, particularmente, entre os que possuem antecedentes hebreus ou caucásicos. Em relação ao ambiente, “neste momento existe um interesse cientifico maior no campo da flora intestinal”, explica Tuñón. Em todo caso, a população mais afetada é a jovem, composta por indivíduos de menos de 30 anos.

 

Devido ao fato de desconhecer-se a origem da doença, hoje o tratamento está mais dirigido à redução da inflamação das partes do aparelho digestivo que afeta: intestino grosso e delgado, em capas mais profundas que a colite, outra grande doença inflamatória intestinal.

 

“Mudanças espetaculares”

 

O estudo experimental realizado em ratos combinou o uso da glutamina com um hapteno, substância química que provoca a resposta imunitária. Este hapteno denomina-se TNBS. Provocou-se a doença de Crohn nos modelos animais e posteriormente aplicou-se o tratamento experimental com estas substâncias. Em relação ao grupo controle observaram-se “mudanças espetaculares, especialmente na diminuição da fibrose”. A doença de Crohn pode apresentar um grave problema para os enfermos. A patologia pode tornar-se crônica e conduzir a uma fibrose, isso é, fazer com que o tecido se torne rígido, dificultando o normal funcionamento, neste caso, do intestino. Os resultados foram apresentados no Journal of Nutrition.

 

Os pesquisadores não só comprovaram o efeito antiinflamatório da glutamina, como também questionaram o comportamento dos marcadores do fenômeno da fibrose. Através de estudos genéticos, os especialistas analisaram a ativação de células estreladas, encontradas neste tecido, e de citoquinas pro-fibrogênicas, isso é, que favorecem a aparição da fibrose. Os cientistas empregaram com ferramenta a reação da cadeia de polimerasa na transcrição reversa (RT-PCR), o western blot (para a detecção de proteínas) e a imunoestoquímica.

 

Ainda que não se encontre a cura, diminuir a fibrose é capaz de “melhorar a qualidade de vida” dos pacientes. Deve-se ter em conta que o seguinte passo da fibrose é a estenose, isso é, que o conduto se estreite. O trabalho de pesquisa continua agora por parte do Ibiomed no estudo de fenômenos antecipados dos efeitos da inibição do apoptose. É importante lembrar que a doença de Crohn produz morte celular nas zonas afetadas. Os pesquisadores pretendem “conhecer os mecanismos para observar as inibições que produz a glutamina nas vias moleculares”. A redação dos resultados será produzida no final do verão.

 

A pesquisa é realizada através da colaboração estabelecida pelo Programa Hispano-brasileiro de Cooperação Interuniversitária do antigo Ministério de Educação e Ciência. A colaboração entre o Ibiomed, que faz parte do Centro de Investigação Biomédica na Rede de Doenças Hepáticas e Digestivas (CIBERehd), e as duas instituições brasileiras começou há quatro anos e foi renovada em 2008.