Medio Ambiente Brasil Campinas, São Paulo, Lunes, 30 de junio de 2014 a las 11:00

Instalação-oficina questiona padrão da comunicação das mudanças climáticas

Uma oficina participante, todos os que foram apreciar a exposição do MIS puderam intervir de alguma maneira

Michele Fernandes Gonçalves/ComCiência/Labjor/Dicyt - O que pode uma rede? O que implica produzir conhecimentos, sensações e afetos em rede? Como as redes podem fazer funcionar a vida? Estes foram alguns dos questionamentos propostos pelo grupo multidisciplinar de pesquisa em arte, ciência e filosofia multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações durante uma instalação-oficina realizada no último mês de abril no Museu de Imagem e Som (MIS) de Campinas.

 

O desafio lançado pelo grupo, que reúne comunicadores e artistas das mais diversas áreas do conhecimento (educação, comunicação, antropologia, ciências sociais, filosofia, geografia, história, letras, linguística e artes) foi de estimular articulações inovadoras e inéditas entre as ciências ambientais e as ciências humanas, a filosofia e as artes.

 

A iniciativa, segundo a coordenadora do grupo Susana Oliveira Dias, partiu da reflexão sobre um padrão identificado na comunicação específica das mudanças climáticas: o excesso de palavras de ordem e a imposição de modelos de verdade, ambos fixados em narrativas saturadas de clichês cujos funcionamentos, que marcam oposições entre humano-natureza, sujeito-objeto, realidade-aparência, ciência-política, infantilizam a opinião pública e esbarram em moralizações que tentam aprisionar a vida, e por isso mesmo, não atingem o público.

 

Diante desse cenário, o multiTÃO resolveu perguntar: o que podem as palavras, imagens e sons compor com as ciências, e a ciência das mudanças climáticas, em meio a essa rede de intrigas e capturas? A pergunta, na realidade, é parte das apostas que o grupo vem fazendo nos últimos anos, ao trabalhar com a noção de experimento interativo. A proposta, com isso, é a de que a comunicação e divulgação científicas sejam exploradas fora da lógica de transmissão linear de conteúdos das ciências para a população. Ao invés disso, o grupo as sugere como possibilidades de constituição de uma cultura científica que gere uma efetiva democratização de conhecimentos e um potente engajamento.

 

A instalação faz parte do novo projeto do qual o grupo participa, intitulado “Mudanças climáticas em experimentações interativas: comunicação e cultura científica”, financiado pelo CNPq. Ele integra as ações da Sub-rede “Divulgação Científica e Mudanças Climáticas”, criada recentemente dentro da Rede Brasileira de Pesquisa e Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), coordenada também pelo Labjor em parceria com o INPE.

 

O projeto do CNPQ pretende consolidar a sub-rede a partir de um conjunto de experimentos interativos, dentre os quais, uma Revista Eletrônica que abrirá espaço para publicações jornalísticas, científicas e artístico-culturais, com lançamento previsto para junho, e instalações artísticas como a realizada no MIS. Unindo as intenções do projeto e da sub-rede, outra questão que norteou a realização das oficinas-instalações foi a pergunta “o que pode uma sub-rede de divulgação científica e mudanças climáticas dentro de uma rede como a Rede Clima?”

 

O tema do evento – não coincidentemente, “redes” – será também a chamada da primeira edição da revista e foi escolhido justamente por sugerir conexões a partir de emaranhados criativos, tais como a própria proposta de criação de uma rede e uma revista interdisciplinares entre ciência, comunicação e arte. A intenção é dar lugar a produção de conhecimentos, sensações e afetos, tornando possível a abertura de pesquisas e pensamentos acerca das mudanças climáticas a experimentações em tramas sensíveis, de um futuro e uma humanidade ainda inexatos.


A instalação, que recebeu o nome de “Experimentando em redes: pesquisa, arte e jornalismo científico”, foi "concebida e alinhavada por pensamentos e sentimentos a respeito da mudança e do tempo e de seus entrelaces com o clima". O que os integrantes do grupo desejavam era que estes elementos pudessem ser concebidos "como redes de potências infinitas, inclusive a de concebê-los e problematizá-los de outras formas".

 

Durante três dias, quem passou pelo MIS pôde vivenciar uma forma diferente de “exposição”. Mais que observar uma instalação sobre ciência e arte, os participantes tiverem a oportunidade de criar, destruir e recriar uma instalação de arte-ciência. Isso porque o convite era o de justamente não delimitar as possibilidades de interação, contemplação e/ou interpretação. Existiam obras e espaços ocupados, mas, segundo a concepção dos curadores, todos inacabados, vazios de significados preestabelecidos. O convite, assim, era para que os participantes fossem tão atores quanto anônimos, tão obras quanto artistas, e tudo o que nesse intervalo entre opostos circula.

 

À disposição - dos participantes “dispostos” - estavam materiais diversos como linhas, agulhas, barbantes, papéis, tintas, canetas, máquinas fotográficas, fotos, revistas, livros e outros tantos objetos passíveis de manipulação, alteração, criação ou, simplesmente, de ser ignorados. A aposta do grupo, nesse caso, foi a de que todos que por ali circulassem pudessem relacionar-se com o espaço, o tempo, as pessoas e si próprios de qualquer maneira e, a partir de uma experiência sensitiva e sensorial, agir, aquietar, dizer, calar, intervir, apreciar. Conforme os dias do evento iam passando, as alterações ganhavam nuances diversificadas por novas interferências, de muitas outras mãos, que geravam novas obras e novas experimentações, como numa dança de embaralhamentos em que os passos já trilhados levam àqueles ainda sequer concebidos, e vice-versa.

 

A crença em mesclar campos do conhecimento tão comumente separados como arte, filosofia, ciência e educação surgiu da percepção da necessidade de conectar as ações de comunicação e divulgação científicas à pesquisa, e estas, à vida. "Vida que pulsa, e não o faz sozinha. Está sempre em rede", complementam.