Os desastres não são naturais, são construídos socialmente: Virginia García Acosta
AG/AMC/DICYT A pesquisa histórica e antropológica sobre riscos demonstra que os desastres não são naturais e que se tais fenômenos são cada vez mais freqüentes, não é devido a um maior número de ameaças que se apresentam, mas porque com o tempo nossas comunidades e sociedades se tornaram mais vulneráveis e arriscadas, afirmou Virginia García Acosta, pesquisadora membro da Academia Mexicana de Ciências (AMC).
Neste sentido, considerou que, de acordo com a evidência empírica, a sociedade contribui, com aciones mais ou menos deliberadas, a construir contextos vulneráveis que, diante da presença de uma determinada ameaça natural, provocam desastres de cada vez maior magnitude, advertiu.
A também diretora do Centro de Pesquisas e Estudos Superiores em Antropologia Social (CIESAS, em espanhol), assinalou que, ao longo da história, as sociedades não permaneceram passivas diante das ameaças naturais, e por isso dever-se-ia trabalhar na recuperação de estratégias que já foram desenvolvidas para prevenir desastres.
Quando falamos de furacões, considerados uma ameaça natural recorrente em virtude de que se apresentam a cada ano, de junho a novembro, a especialista observou que existem construções como as casas maias, que contam com portas através das quais o vento flui e uma edificação circular pela que o vento do furacão dá a volta.
Hoje em dia, pode-se encontrar casas maias com cem ou duzentos anos de idade que não foram destruídas por furacões, enfatizou a pesquisadora.
Virginia García Acosta informou que atualmente trabalha com a colaboração de pesquisadores e estudantes de vários estados da República Mexicana em um projeto chamado Furacões na História do México. Memória e Catálogo.
Tal estudo, do qual esperam-se resultados para 2011, está financiado pelo fundo de ciência básica do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CONACYT), e procura reunir todos os dados sobre furacões desde a época pré-hispânica, com a informação que aparece em manuscritos até o século XX.
Sobre esta pesquisa, indicou que foi elaborada uma proposta para um projeto “espelho”, com objetivos e alcances similares, o qual seria levado a cabo com instituições centro-americanas e sul-americanas.
Este estudo cobriria o Caribe peninsular e insular e enfatizaria a recuperação das melhores práticas históricas e contemporâneas no México, América do Sul e América Central.
A idéia, completou, é construir uma memória das estratégias que utilizaram as sociedades no enfrentamento de ameaças naturais recorrentes, para que possam converter-se em políticas públicas e programas sociais em zonas afetadas permanentemente por furacões.
Os projetos antes mencionados de México e América Latina somam-se a outro financiado pelo CONACYT e União Européia, o qual procura criar uma rede de estudo sobre risco e vulnerabilidade que identifique estratégias de adaptação em países europeus, com um enfoque comparativo.
Neste projeto, colaboram com o México várias universidades da Inglaterra, Finlândia e Itália, para recuperar o conhecimento cultural e tecnologicamente construído associado à prevenção dos riscos hidrometereológicos.
A especialista em desastres considerou que a informação gerada a partir dos projetos mencionados servirá para alimentar as decisões em matéria de prevenção e risco. Os usuários finais destes projetos, concluiu, são os feitores de políticas públicas, governos locais, planejadores, urbanistas, o setor de construção civil, organizações comunitárias, estudantes e pesquisadores.