Health Spain , León, Monday, November 26 of 2012, 15:28

Pesquisa-se as causas da suscetibilidade de idosos à tuberculose

Cientistas de León publicam em ‘Age’ os resultados de um trabalho que mostra que a bactéria encontra um lugar de multiplicação mais apropriado nos macrófagos dos idosos

Cristina G. Pedraz/DICYT A tuberculose é uma infecção bacteriana contagiosa que afeta principalmente os pulmões, ainda que possa estender-se a outros órgãos. A infecção inicial costuma ser assintomática, mas se manifesta em poucas semanas. Uma intensa febre, presença de calafrios, perda de peso e sobretudo uma forte tosse acompanhada de sangue são os principais sintomas apresentados pelos afetados. Segundo os dados do Relatório epidemiológico sobre tuberculose de Castela e Leão publicado em 2011, a taxa de incidência por cada 100.000 habitantes em toda comunidade é de 14,7 casos. A província de León registra os níveis mais elevados, com 19,6 casos por cada 100.000 habitantes, que só é superada pela de Palencia. Com respeito à idade, detectou-se um pico de incidência entre os 75 e 84 anos, pessoas que formam “um grupo de risco importante”.

 

Pesquisadores do Hospital de León, do Hospital Comarcal del Bierzo e do Instituto de Estudos de Ciências da Saúde de Castela e Leão publicaram recentemente na revista científica ‘Age’ os resultados de um trabalho que pretende entender a suscetibilidade dos idosos à tuberculose.

 

Conforme explica a DiCYT Octavio Rivero, membro da Unidade de Pesquisa do Complexo Assistencial Universitário de León, diversos estudos epidemiológicos revelam que os idosos são um grupo de risco importante, ainda que não sejam bem conhecidas suas causas. “Um dos argumentos utilizados para justificar este fato é que a população está envelhecendo, de modo que conforme aumenta a população de idosos, a proporção de pessoas com tuberculose é maior, ainda que este argumento pareça não explicar tudo”, indica o pesquisador, que indica que na realidade “não existem muitos estudos a nível de pesquisa básica e clínica para saber se há uma maior suscetibilidade à tuberculose em idosos em comparação com pessoas mais jovens”.

 

Este fator tem especial relevância em Castela e Leão, onde os idosos representam um grupo da população numeroso e, portanto, “com interesse no estudo”. Assim, o grupo de pesquisadores tentou comprovar se existem diferenças entre este coletivo e o de pessoas mais jovens em relação à suscetibilidade à tuberculose.

 

“Realizamos uma série de experimentos e comprovamos que efetivamente existem diferenças. Purificamos monócitos (um tipo de glóbulos brancos) do sangue periférico, e no cultivo em placa os diferenciamos dos macrófagos (células do sistema imunológico) e os infectamos. Observamos que a bactéria encontra um lugar de multiplicação mais apropriado no monócito do idoso que no de uma pessoa adulta imunocompetente, isso é, com seu sistema imunológico em perfeito estado”, detalha o pesquisador.

 

Ainda que esta possa ser uma das causas que justificam o fato de que os idosos desenvolvem tuberculose com mais freqüência que os indivíduos mais jovens, é necessário aprofundar nesta linha de modo que os cientistas estão envolvidos em dois novos projetos de pesquisa financiados pela Junta de Castela e Leão. “Estes projetos, cujos pesquisadores pertencem ao Hospital de León e ao Hospital del Bierzo, estão bastante desenvolvidos e esperamos publicar resultados em dois novos artigos”, afirma Octavio Rivero.


Em um deles, os pesquisadores estudam com microarrays de expressão genética monócitos de idosos infectados por tuberculose e caracterizam a nível molecular os resultados obtidos. No outro projeto, a equipe de cientistas está realizando um estudo de infecções in vitro de sangue inteiro (diferentemente do primeiro, que foi realizado com monócitos), comparando idosos com indivíduos jovens e caracterizando a atividade antimicrobacteriana desse sangue nestes dois grupos de idade.

 

Aplicação

 

Segundo aponta Octavio Rivero, trata-se de uma pesquisa traslacional com um componente básico importante, cujo fim é “tentar entender a suscetibilidade à tuberculose”. “Os números presentes na literatura indicam que aproximadamente um terço da população mundial está infectada com tuberculose, mas somente 10% desenvolve a doença. Mais de dois milhões de pessoas morrem por ano de tuberculose no mundo e não se sabe quais  mecanismos fazem com que esse 10% seja suscetível à doença, apesar de estar claro que os seres humanos são bastante resistentes a estas bactérias. Não está claro o que faz com que esse 10% desenvolva a doença e o estudo de idosos, que é importante como grupo de incidência por si só, é muito interessante porque pode dar pistas”, afirma o pesquisador, que agrega que se a comunidade científica é capaz de averiguá-lo, “possivelmente seremos capazes de desenhar algum tipo de terapia imunomoduladora”.