Pesquisa-se o momento em que surge a percepção e a interpretação de emoções nas crianças
CGP/DICYT As crianças podem perceber as emoções de outras pessoas desde muito cedo, sempre que estas não representem conflitos com as emoções próprias. A partir dos três anos aumenta significativamente sua capacidade de percepção, inclusive em situações de conflito com desejos e crenças próprias. Estas são algumas das conclusões de um estudo elaborado pelo pesquisador da Universidade de Burgos, Gabriel Eduardo Martín, que pretende estudar a fundo o momento da vida em que surge a percepção e a interpretação das emoções.
Martín defendeu recentemente sua tese doutoral a respeito, intitulada O desenvolvimento da teoria da mente nas crianças de 3 a 6 anos: Teoria da mente, predição emocional e justificativa de emoções, que foi orientada pelo professor do Departamento de Ciências da Educação, Fernando Lara Ortega.
O trabalho se encontra no âmbito de estudo dos processos da Teoria da Mente e sua relação com a previsão e justificativa das emoções. O termo Teoria da Mente refere-se à capacidade de entender e prever a conduta de outras pessoas com base em seus conhecimentos, emoções e crenças, que são os processos mentais que movem esta conduta.
O pesquisador trabalha há mais de duas décadas na equipe de Atenção Prematura de Burgos com crianças de 0 a 6 anos, o que o levou a interessar-se pelo início destes processos mentais.
“Utilizamos basicamente imagens e também alguns materiais tridimensionais para avaliar as crianças diante de determinados conflitos de desejos e de crenças. Por exemplo, oferece-se à criança um lanche no qual pode escolher entre uma pêra e um chocolate, perguntando-lhe o que prefere. A maioria das crianças optam pelo chocolate e neste momento se diz a elas que outra menina gosta muito de pêras. Consultamos o que iria pedir esta menina de lanche e então a criança, nessas idades tão prematuras, somente quando já está avançando no desenvolvimento da Teoria da Mente, é capaz de compreender que a outra criança pode ter outros desejos diferentes e, portanto, que fará uma escolha distinta a sua”, relata. Do mesmo modo, também se estuda a capacidade de previsão, isso é, “como se sentirá esta menina que gosta de pêras se lhe damos chocolate, e logo tenta-se justificar a emoção, perguntado por que se sentirá desta maneira”, agrega.
O trabalho é resultado da análise de toda informação criada através destes testes, que apresentam “cinco situações distintas e muito simples, demoram de 10 a 15 minutos para serem feitos”, afirma seu autor.
Resultados
O pesquisador descobriu correlações “altamente significativas” no desempenho de crianças em três tipos de tarefas: as clássicas da Teoria da Mente, tarefas de previsão de emoções e tarefas de justificativa de emoções. Constatou-se, ademais, uma seqüência dos rendimentos das crianças de acordo com o grau de dificuldade dos elementos do teste.
Nas explicações que as crianças dão a respeito das emoções de outros influi, segundo este trabalho, tanto o desenvolvimento da capacidade de entender a conduta de outras pessoas (Teoria da Mente), quanto o fator idade e de desenvolvimento da linguagem, já que com mais idade as crianças utilizam também mais verbos “mentalistas” como, por exemplo, desejar, acreditar ou saber. Deste modo, estes resultados aportam um enfoque relevante para a educação socioambiental e de inteligência emocional das crianças e são interessantes para dar resposta educativa em determinadas doenças como o autismo.