Ciencia España , Zamora, Martes, 26 de mayo de 2015 a las 17:58
INESPO II

Preservação de edifícios históricos na província de Zamora

Leocadio Peláez, arquiteto e investigador na Universidade de Salamanca, explica as chaves de restauros como o da igreja de Valdefinjas ou Santiago del Burgo

José Pichel Andrés/DICYT Leocadio Peláez, arquiteto e investigador na Escola Politécnica Superior de Zamora (Universidade de Salamanca), juntamente com uma equipa de investigação multidisciplinar de historiadores, arqueólogos, geólogos, químicos e engenheiros, vem realizando estudos e projetos de conservação em vários edifícios e sítios históricos localizados na província de Zamora (Espanha) há mais de duas décadas.

 

“Existe uma grande dependência entre as várias abordagens que cada uma das disciplinas proporciona para o conhecimento do monumento, enfoques importantes na base das intervenções subsequentes”, afirma o especialista a DiCYT.

 

O resultado deste trabalho são as ações de restauro realizadas em igrejas como San Ildefonso ou a mais recente de Santiago del Burgo, ambas na cidade de Zamora, ou a de San Lorenzo, em Toro; a recuperação e valorização, juntamente com o arquiteto Pedro Lucas de Teso, do acampamento romano de Petavonium; ou as diferentes fases que se têm executado no Mosteiro de Santa María de Moreruela desde os inícios da década de 1990.

 

A obra mais recente teve lugar na igreja de Valdefinjas, que terminou em mãos privadas após ser vendida pela Diocese de Zamora dado o seu estado ruinoso, e que foi incluída entre os bens adquiridos recentemente pelo grupo LVMH (Bodegas Numanthia). O novo proprietário decidiu parar a ruína e reforçar estruturalmente a construção.

 

A cabeceira desta igreja é uma das primeiras obras do insigne arquiteto renascentista Rodrigo Gil de Hontañón, reconhecido por monumentos espanhóis como o Palacio de Monterrey de Salamanca, o Colegio de San Ildefonso da Universidade de Alcalá de Henares (atual reitoria dessa instituição) e a igreja matriz de Villamor de los Escuderos (Zamora). É notável pelos seus desenhos de cabeceira octogonal, que culminaram finalmente na capela-mor da Catedral de Ciudad Rodrigo (Salamanca).

 

Durante os trabalhos em Valdefinjas “pudemos documentar a maior parte do processo construtivo da igreja, as diferentes fases e reformas pelas que passou o templo durante os seus 500 anos de vida, como extensões, ruínas, danos e reformas que tem sofrido”, afirma Leocadio Peláez. “Fizemos uma intervenção arqueológica de limpeza e desmonte dos desprendimentos, a fim de recuperar a impressionante abóbada de nervuras que cobrira a cabeceira, a qual, infelizmente, estava entre os entulhos e será recolocada e restaurada nas futuras intervenções”, acrescenta. A primeira fase do trabalho concluiu no passado verão e está previsto adaptar o edifício para uma nova utilização.

 

Santiago del Burgo

 

Provavelmente, para a população de Zamora é muito mais conhecida uma outra intervenção, a concluída na igreja de Santiago del Burgo, em pleno centro da cidade. É a única das igrejas românicas da cidade que conserva a sua estrutura original, com três naves, junto com a Sé catedral.

 

O restauro deste templo do século XII, inteiramente financiada pelo governo regional, a Junta de Castilla y León, “levou à descoberta de toda a história do monumento desde os seus princípios, proporções, alturas, evolução construtiva ao longo dos séculos, danos e reconstruções”.

 

A torre e as abóbadas centrais estavam em um estado ruinoso e a sua beleza ficava “oculta pela falta de luz, sujidade e ambiente descuidado”, portanto, “foi gratificante recuperar e consolidar a igreja mantendo a sua essência”. E conclui que “uma das maiores fontes de orgulho em qualquer das nossas obras é que o verdadeiro protagonista é o edifício, que o nosso trabalho há de passar despercebido”.

 

É que não é muito diferente a atuação de restauro de um monumento em mau estado do processo pelo qual se trata uma pessoa doente: “o paciente vai para o especialista e fazem-lhe provas, como radiografias ou exames ao sangue; nós executamos estudos históricos, documentais e arqueológicos, analisamos o estado dos materiais, os problemas construtivos e, a partir daí, desenvolvemos um projeto de intervenção”, ilustra o arquiteto.

 

Santa María de Moreruela

 

Ao longo de mais de 20 anos, provavelmente o trabalho que mais tem unido à equipa, para o que mais se tem voltado e do qual fala Leocadio Peláez com mais paixão é o desenvolvido no mosteiro cisterciense de Santa María de Moreruela, localizado em Granja de Moreruela (Zamora).


A primeira abordagem neste impressionante conjunto monumental foi a documentação planimétrica, constantemente revisada para incorporar todos os novos dados e descobertas resultado das várias ações. Interveio-se na cabeceira, na igreja e nos dois claustros, mas “sempre de forma em coordenada e a ateder não só os diversos pontos de vista que propõem os diferentes profissionais da equipa, mas também ‘ouvindo’ o edifício”.

 

Fruto deste trabalho é o livro Moreruela. Un monasterio en la historia del Císter (“Moreruela. Um mosteiro na história do Cister”), publicado pela Junta de Castilla y León em 2008, e convertido em um estudo de referência para muitas publicações, páginas web e até teses de doutoramento posteriores.

 

“A última intervenção foi a recuperação do claustro do século XVII, mas quando lá estávamos a trabalhar encontrámos novas informações sobre o mosteiro medieval”, diz o arquiteto. O edifício anexo ao novo claustro “escondeu”, mas não destruiu, parte do mosteiro medieval do século XIII, que será o tema de pesquisas futuras a proporcionar mais dados sobre o monumento.

 

“Realizar uma atuação para conservar um edifício histórico”, insiste, “significa a investigação, desenvolvimento e execução das obras com um grupo multidisciplinar de profissionais”. Sem esta equipa, sem os necessários estudos preliminares e as consequentes reflexões finais, “dificilmente pode ser abordado e preservado o nosso património”.