Um projeto europeu transformará os resíduos de eucalipto em energia elétrica e térmica
Cristina G. Pedraz/DICYT Na Espanha, estima-se que existam cerca de 760.000 hectares de terra ocupadas por eucaliptos, a maioría nas regiões noroeste e sudoeste da península. Esta espécie arbórea, devido a seu rápido crescimento e a sua produtividade (estima-se que, junto ao chopo, seja o maior produtor de madeira do país), tem sido utilizada com frequência em reflorestamentos. O destino principal de sua madeira é a indústria de papel ainda que também se esteja começando a utilizá-la em trabalhos de carpintaria. No entanto, não se tem dado uma saída produtiva aos resíduos desta árvore (folhas, ramos, madeira eliminada pela indústria, etc.), o que tem levado várias entidades europeias a colocar em prática o projeto LIFE Eucalyptus Energy.
O objetivo final do projeto é transformar estes resíduos de eucalipto em energía elétrica e térmica, para o qual se desenhará uma planta demonstrativa baseada na tecnología de pirólise. Do consórcio participam quatro entidades, três delas espanholas, a Associação Asturiana de Empresários Florestais e da Madeira (Asmadera), a empresa Ingemas como coordenadora do projeto e o centro tecnológico Cartif de Valladolid, assím como a empresa britânica CPL industries.
Como explicam à DiCYT Ana Urueña e David Díez, pesquisadores da Cartif que participam do projeto, o centro tecnológico trabalha há vários anos com o aproveitamento energético da biomassa. “Temos desenvolvido projetos de pirólise (nos quais se introduz a biomassa em um reator na ausência do oxígênio) e também de gasificação e temos observado que um dos pontos chave desta tecnología é a limpeza do gás que é produzida na reação. Este gás tem uma alta concentração de alquitranes e se se quer utilizá-lo para produzir energia elétrica através de um motor, como neste caso, primeiro é necessário limpá-lo porque se pode estragá-lo”, detalham.
A Cartif tem desenvolvido uma tecnologia que permite limpar o gás do processo de pirólise e a aplicará neste projeto. Por sua vez, a Asmadera se encarregará de fornecer a biomassa de eucalipto e dos trabalhos de difusão, enquanto que a Ingemas levará a cabo a parte de engenharia e a produção de energía elétrica e a empresa britânica desenvolverá a tecnología de pirólise.
“Uma vez que tenhamos a biomassa, a trataremos para que esteja em suas melhores condições antes de introduzí-la no pirolizador. Quando a reação de pirólise é produzida, como resultado, produzimos o gás e um resíduo sólido (biochar). O gás passa por nosso sistema de limpeza e dele a um motor para produzir a energia elétrica e térmica. O biochar que se produz no processo de pirólise será utilizado como um modificador orgânico”, apontam os pesquisadores da Cartif.
Planta piloto
O projeto LIFE Eucalyptus Energy, que têm uma duração de três anos e um orçamento de aproximadamente 1.7 milhões de euros (sendo que a metade está sendo financiada pela União Europeia), prevê a criação, em 2015, de uma planta piloto com uma capacidade de 105 kilovates elétricos. A planta será instalada na localidade asturiana de Tineo.
Seu último objetivo é demonstrar a viabilidade da tecnologia e transferir o conhecimento resultante a outras partes da Europa que podem replicar a experiência.
Desta forma, o subproducto do processo de pirólise, o biochar, vai funcionar como um modificador orgânico em plantações de eucaliptos. “O biochar esponja o solo e retém os nutrientes, de forma que se se acrescenta o fertilizante habitual, se tem um efeito retardante e a planta necessita de mais tempo. Vamos aplicá-lo em terrenos com eucaliptos e vamos ver a evolução de uma plantação na qual o biochar é aplicado e de outra na qual se utiliza o tratamento com um fertilizante habitual”, concluem Ana Urueña y David Díez.