"A maior descoberta que o LHC poderia fazer seria não encontrar a partícula de Higgs"
José Pichel Andrés/DICYT Recém chegado de Genebra (Suíça), Álvaro de Rújula, diretor da Divisão de Física Teórica do Centro Europeu de Investigações Nucleares (CERN), apresenta hoje uma conferência em Salamanca, mais precisamente na Aula Cultural de Caja Duero, situada na Plaza de los Bandos da capital.
Este cientista não é o único espanhol com impacto importante dentro do CERN. “A contribuição espanhola para o laboratório onde se fabrica este conjunto de aparelhos é de cerca de 7% do orçamento, uma boa parcela do pessoal e uma boa parcela do esforço”, declarou a DiCYT na sua chegada a Salamanca. “Nós espanhóis somos bastante fortes em ”Física Teórica e um pouco menos em Física Experimental e o motivo disso é que a segunda custa dinheiro e os físicos teóricos não custamos quase nada”, afirma.
No entanto, Álvaro de Rújula chegou a Salamanca através da Fundación Caja Duero não apenas para falar do já famoso LHC, mas também para explicar conceitos mais gerais da origem e atual situação do Cosmos. “O Universo está em expansão. Quando era mais jovem, estava mais concentrado, y quando se concentra algo, por exemplo, um gás, como fazemos ao encher a roda de uma bicicleta, o gás em questão aquece. Se o Universo estava mais concentrado no passado, estava também mais quente, ou seja, a energia das partículas que o compõem era mais alta. Para entender o Universo em alta temperatura ou em alta energia, é necessário entender as leis da natureza em alta energia e é isso que estudamos no LHC: em outras palavras, o manual de funcionamento do Universo ”
O vazio: a substância mais simples
Rújula comentará também um dos grandes desafios da Física, descobrir de que são compostas a matéria e a energia escura, que somam 95% do Universo. Contudo, em sua opinião, “se o LHC esclarece algo sobre matéria escura e energia escura, será por alguma razão que sequer suspeitamos”. Ainda assim, “uma das coisas que busca o acelerador tem a ver com a energia escura: o vazio é o que resta quando se retira tudo o que se pode retirar, mas não é um ente inerte, mas sim uma substância que provoca que o Universo esteja se expandindo neste momento de modo acelerado. Uns pedaços de vazio de um lado repelem outros pedaços de vazio de outro lado e acreditamos que essa repulsão gravitacional está na base do fenômeno”. Em qualquer caso, “o vazio é uma substância e, como tal, podemos fazê-la vibrar e as vibrações de uma substância a nível fundamental são partículas. E a partícula que corresponderia às vibrações do vazio é o que chamamos de partícula de Higgs, o criminoso mais perseguido pela nossa pesquisa”, brinca. “Vamos tentar fabricá-la. Se existe, conseguiremos e, se o conseguirmos, a estudamos e, se a estudarmos, teremos pistas sobre a natureza do vazio, que é a substância mais simples, porém a que menos entendemos”, enfatiza.
A importância de descobrir a partícula de Higgs consiste em que completaria o modelo standard de partículas elementares desenvolvido por físicos teóricos, no qual também trabalhou Álvaro de Rújula. “Sabemos muito a respeito das partículas de que somos feitos e esse entendimento chama-se modelo standard”, explica. Não encontrar a famosa partícula de Deus, como alguns lhe chamaram devido à sua importância, poderia implicar questionar novamente todo o modelo ou substituí-lo por outro. Por isso, o cientista espanhol afirma que provavelmente a maior descoberta que poderia fazer o LHC seria não encontrar a partícula de Higgs, seria como ir à América e ela já não estivesse lá, mas é muito difícil que Isabel, a Católica, lhe pague uma segunda viagem se não encontrou nada, por isso é difícil fazer entender que não descobrir algo seria a maior descoberta”.
Apostar vai contra a Ciência
Este especialista prefere não fazer apostas públicas sobre a possível descoberta da partícula, como já fizeram cientistas, entre os quais, Stephen Hawking, convencido de que não se encontrará. “Eu prefiro manter minha própria incerteza, aposta é um preconceito e um preconceito vai contra a Ciência”, afirma.
Álvaro de Rújula é doutor em Física Teórica pela Universidade Complutense de Madrid e desenvolveu suas pesquisas no campo das partículas elementares, em particular, em Física de Neutrinos e Cosmologia. Atualmente é diretor da Divisão de Física Teórica do CERN, em Genebra, e é professor da Universidade de Boston. Os projetos que desenvolve atualmente centram-se na Física de raios cósmicos e de raios gama, assim como nos testes de diversas teorias que se hão de realizar no acelerador de partículas maior e mais potente do mundo, o LHC.
Pane faz com que o LHC permaneça parado até abril |
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Apesar da euforia que gerou entre a comunidade científica o funcionamento do LHC, poucos dias após ser ativado, o maior acelerador de partículas do mundo teve de ser parado devido a uma pane. Este contratempo “vai implicar um atraso até abril”, assegura Álvaro de Rújula. “É um atraso grande, mas no planejamento prévio já estava previsto parar em dezembro, de maneira que iríamos fazer muito pouco até então. Na prática não se perde muito tempo, porque no período de inverno a eletricidade é mais cara e não a podemos pagar devido essencialmente aos sistemas de aquecimento. O que se perde é o entusiasmo, porque todo mundo estava muito feliz de ter arrancado este automóvel de Fórmula 1”, comenta. O contratempo deve-se a uma conexão defeituosa entre dois ímãs. “Basicamente consistem em uns cabos por onde passa eletricidade, porém muito sofisticados. Deveriam ter mal feitas as conexões e saltaram. Naturalmente nos assustamos pensando que pode acontecer novamente, de forma que suponho que os técnicos passarão bastante tempo testando todas as conexões nos 1.500 imãs que existem deste tipo”. As partículas tendem a deslocar-se em linha reta e estes imãs “são como pára-raios das estradas”, exemplifica o cientista, “evitam que as partículas saiam da sua trajetória circular. |