Alimentación España , Salamanca, Martes, 19 de mayo de 2015 a las 11:48
INESPO II

Compostos naturais são uma importante fonte de novos medicamentos

Universidade de Salamanca analisa dados relacionados com os compostos naturais, a fim de apresentar propostas para investigação farmacológica

José Pichel Andrés/DICYT As substâncias químicas presentes nos seres vivos, como plantas e animais, são uma das mais salientes fontes de medicamentos e outros produtos de diversas áreas, da alimentação até a cosmética. Na Faculdade de Farmácia da Universidade de Salamanca, a investigadora Marina Gordaliza passou anos a estudar estes compostos naturais em colaboração com empresas e, atualmente, concentra-se na análise pormenorizada de dados relacionados com este campo, que sugerem a sua crescente relevância.

 

Cerca da metade dos fármacos disponíveis hoje estão relacionados com os compostos naturais e, no caso do cancro, a quantidade supera 60 %. No entanto, “a indústria farmacêutica voltou-lhes as costas por algum tempo”, assegura a investigadora em declarações a DiCYT, provavelmente porque fabricar produtos sintéticos tinha mais vantagens.

 

Ter acesso às moléculas naturais ―que em muitos casos podem estar mesmo no fundo do mar―, isolá-las ou tentar produzi-las em grandes quantidades pode ser uma tarefa árdua. No entanto, nos últimos anos, “estão a ser otimizados os tempos e custos”. Talvez por isso, há umas décadas estes compostos naturais estão a ganhar peso no mundo da farmacologia.

 

Um estudo realizado por Newman e Cragg, que analisou a origem de 1330 novas entidades químicas de moléculas pequenas aprovadas como medicamentos entre 1981 e 2010 revelou que 64 % tinha alguma relação com os compostos naturais. Incluindo as vacinas e biotecnológicos, a percentagem subia para 71 %, e dos 175 novos fármacos anticancerígenos aprovados nesse período, 131 eram compostos naturais ou em relação com eles, ou seja, 75 %.

 

Portanto, não é surpreendente que muitos dos fármacos mais prescritos tenham uma origem natural. Por exemplo, a atorvastatina, usadas para combater níveis elevados de colesterol, está relacionada com compostos naturais tais como a lovastatina; a morfina procede da papoila-dormideira ou planta do ópio e tem muitos derivados usados como analgésicos; e ainda a popular aspirina deriva do ácido salicílico, um composto extraído do salgueiro.

 

Nestes casos e em muitos outros, os investigadores começam por trabalhar o composto natural e tentam manipulá-lo para melhorar as suas propriedades farmacológicas e eliminar potenciais efeitos adversos. É o que se chama de “fármaco-modulação”.

 

Através de uma análise pormenorizada deste tipo de dados, Marina Gordaliza estuda “as diretrizes e estratégias que se têm seguido ao longo do tempo para a introdução destes compostos no âmbito terapêutico”, embora muitas vezes as conclusões também se possam extrapolar para outros produtos bioativos, como os pesticidas no caso da agricultura. Então, com base nas conclusões da análise, podem ser feitas propostas interessantes para os especialistas.

 

O potencial do mar

 

Uma das áreas de maior atualidade e interesse pelo seu grande potencial é a das substâncias naturais provenientes do mar. “Os oceanos representam cerca de 70 % da superfície da Terra e o ecossistema marinho, cerca de 95 % da biosfera; aliás, há um dado importante: 60 % dos compostos marinhos estudados apresentam uma atividade biológica significativa”, afirma a investigadora.

 

A vida na profundidade do oceano tem de suportar altas pressões hidrostáticas, temperaturas variáveis e baixos níveis de oxigénio e luz, de modo que seus habitantes “adaptam toda a sua bioquímica para aguentar condições extremas, gerando potentes substâncias”. Sob essas condições, as espécies marinhas desenvolvem o que tecnicamente é conhecido como “estruturas privilegiadas” para lidar com as circunstâncias adversas.

 

Há apenas uma década que foi aprovado o primeiro fármaco de origem marinha, a ziconotida, indicado para o tratamento da dor crónica. O seguinte foi a trabectedina, o primeiro fármaco antitumoral de origem espanhola, pois foi desenvolvido pela empresa Pharmamar a partir do tunicado Ecteinascidia turbinata, uma espécie de invertebrado marinho. A substância é utilizada para o tratamento do sarcoma dos tecidos moles e para as recidivas (a reincidência) do cancro do ovário.

 

Um dado muito significativo é que “dos mais de 30 000 compostos naturais marinhos publicados, menos de 2% provém de águas profundas”, o qual denota que ainda há uma grande quantidade de biodiversidade de fauna e flora sem estudar. À medida que os investigadores tenham acesso a este grande potencial, o número de compostos naturais e suas aplicações poder-se-ão multiplicar.