Desenvolve-se uma metodologia para analisar explorações de carvão por imagens de satélite
Cristina G. Pedraz/DICYT A atividade mineira em geral, e a mineração a céu aberto em particular, pode acarretar uma degradação ambiental grave. A erosão do solo ou o aumento da carga de sedimentos como conseqüência do abandono da atividade sem uma restauração posterior, são algumas destas implicações ambientais, que criam grande controvérsia em todo o mundo. Atualmente, estima-se que são produzidos mais de 6.185 milhões de toneladas de carvão em todo o planeta, sendo que a China, Estados Unidos, Índia, Austrália e África do Sul são os principais países produtores. Neste sentido, obter informação sobre a localização das atividades mineiras é essencial para saber como evoluem ambientalmente estas áreas e as atividades de restauração realizadas com a conclusão da exploração.
Os avanços na análise de imagens de satélite oferecem novas possibilidades nesta linha, ainda que até o momento não tenha sido realizado nenhum estudo que analise as mudanças produzidas pela mineração a céu aberto em escala global. Neste sentido, pesquisadores da Universidade de León, da Universidade de Valladolid e da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, publicaram recentemente na revista científica de maior impacto do ramo, Remote Sensing of Environment, um trabalho no qual aplicam uma metodologia inovadora à análise de imagens de satélite para estudar áreas exploradas pelo carvão. Especificamente, o trabalho examina três áreas de extração de carvão no mundo: El Bierzo, na província de León; Kentucky, nos Estados Unidos, e uma região australiana.
Conforme detalha a DiCYT Alfonso Fernández-Manso, do Departamento de Ciências e Engenharias Agrárias da Universidade de León, localizado no Campus de Ponferrada, trabalham há vários anos nesta linha “devido à proximidade da problemática da mineração na província de León”. Este trabalho é realizado em colaboração com a Universidade de Valladolid, concretamente com a pesquisadora do Instituto Universitário de Investigação e Gestão Florestal Sustentável do Campus de Palencia, Carmen Quintano.
“Começamos desenvolvendo uma metodologia de estudo própria para observar que nos Estados Unidos era utilizada, ainda que em aplicações alheias à mineração, uma técnica muito mais avançada. Vimos a possibilidade de que este método fosse aplicado aos trabalhos que fazíamos aqui e em outras áreas do planeta, e contatamos com Dar Roberts, da Universidade da Califórnia, um dos melhores cientistas do mundo no campo da teledetecção”, afirma o pesquisador. Deste modo, iniciaram um trabalho conjunto que incluiu um estágio de seis meses na Universidade da Califórnia.
Método MESMA
De acordo com Fernández-Manso, o carvão “tem uma importância capital na produção de energia no planeta e está vinculado a muitos problemas ambientais”. Neste sentido, a maior parte do carvão é extraída a céu aberto, o que produz “uma série de manchas imensas que podem ser observadas por satélites”. A idéia é encontrar um método científico para estimar quais áreas estão sendo exploradas atualmente no planeta, já que “se for possível fazer bons mapas podemos saber como avançam essas explorações e quais impactos podem ter sobre o aquecimento global ou sobre a produção de energia”. O método utilizado, denominado MESMA (sigla em inglês para Multiple Endmember Spectral Mixture Analysis), permite “estudar os espectros dos distintos solos nos quais se está trabalhando, saber como se comportam e construir modelos que permitam diferenciar as áreas exploradas pelo carvão das não exploradas, e quantificar sua superfície”, através de imagens de satélite LandSat. Desta forma, seria possível estudar estas áreas exploradas em diferentes momentos e ver como evoluem.
Com relação aos métodos utilizados atualmente para realizar esta tarefa, afirma o pesquisador, o trabalho desenvolvido revela melhoras de 20-30% na estimativa, “valores muito importantes”.
Ainda que no trabalho sejam apresentados mapas de três áreas do mundo (Espanha, Estados Unidos e Austrália), o objetivo seria elaborar a cartografia de todas as minas de carvão a céu aberto do planeta, aproveitando a cobertura global que oferecem as imagens LandSat, o que “não existe”.
Além da elaboração de um mapa definitivo do carvão no mundo, a metodologia desenvolvida permitirá abordar outras questões importantes relacionadas com o tipo de mineração, como “saber qual é a produção total de carvão ou comprovar com detalhes o impacto ambiental, se estão restaurando ou não as explorações abandonadas, a partir dos dados proporcionados por imagens de satélite através desta metodologia”.