Estresse emocional e físico, principais fatores que agravam e desencadeiam a dor fantasma
Cristina G. Pedraz/DICYT Pesquisadores brasileiros e espanhóis que realizam o estudo internacional sobre a Síndrome da Dor Fantasma (SDF) promovido pela Andade (Associação Nacional de Amputados), com sede em Valladolid, e financiado pela Fundação Mapfre, publicaram os resultados finais dos testes realizados em maio do ano passado com 52 pessoas amputadas em Sevilla, Santiago de Compostela e Valladolid. O trabalho pesquisou a dor fantasma do ponto de vista biológico, psicológico e social, quantificando a intensidade da dor fantasma, a temperatura do membro amputado através da termografia, o estado de depressão, ansiedade e dramatização da dor e a qualidade de vida do sujeito.
Os resultados do trabalho, publicados na revista Trauma da Fundação Mapfre, revelam que 31,4% considera a periodicidade da dor indeterminada, isso é, que não existe uma “regularidade” ou “padrão” através do qual se apresenta a dor, ainda que 27% indique que é constante e 16,2% com periodicidade mensal. No mesmo sentido, os principais fatores que agravam, desencadeiam ou aliviam a dor fantasma foram o estresse emocional e físico, e a mudança de temperatura. Do mesmo modo, a associação ou mistura destes fatores também foi relatada pelos pacientes. Observou-se que 16,8% não sabia informar quais fatores agravam ou desencadeiam a dor, o que se conhece como “vulnerabilidade”.
Ademais, são muitas as medidas adotadas pelos afetados para sentir alivio diante da dor fantasma. A medicação, a massagem no membro amputado (junto com a aplicação de gelo, banhos quentes, etc.) e o exercício físico são as principais. No entanto, a maioria dos pacientes (83,7%) não havia realizado um tratamento específico contra a dor fantasma no momento da entrevista e assegurava não conhecer um tratamento efetivo, nem centros especializados para tratar a dor.
Nos aspectos emocional e avaliativo a percepção da dor fantasma foi “significativa”. Os pesquisadores revelaram que “quanto mais alto é o índice de depressão, ansiedade e dramatização diante da dor, pior é a percepção da qualidade de vida, aumentando os índices de depressão, ansiedade e dramatização quando relacionados com o tempo que a pessoa está amputada”.
Testes realizados
O estudo foi realizado com 52 amputados de qualquer nível e etiologia, de ambos sexos, membro amputado estável e com e sem dor fantasma. O grupo de pessoas com dor fantasma foi de 37 pessoas com média de idade de 46 anos e a maioria do gênero masculino (27 homens e 10 mulheres). O grupo sem dor fantasma foi composto por 15 pessoas, com média de idade de 44 anos, formado em sua maioria por homens (13 homens e duas mulheres). As causas traumáticas foram as mais comuns, sobretudo entre os homens, ainda que o estudo estivesse focado em distintas etiologias. O nível de amputação mais freqüente é o femoral.
O tempo em que estavam amputados variou de 2 a 480 meses. A maior porcentagem (11,5%) dos avaliados tinha 60 meses de amputação. A maior parte da amostra começou a usar sua primeira prótese três meses após a cirurgia, e 81% das pessoas apresentou o início dos sintomas da síndrome da dor fantasma (SDF) imediatamente depois da cirurgia da amputação.
Conforme detalhou a DiCYT Soraia Cristina Tonon da Luz, doutora em Fisioterapia da Universidade de Santa Catarina, Brasil, e co-autora do trabalho, foram realizados testes de termografia “para saber qual era a temperatura do membro amputado e comparar se havia uma sobrecarga ou não nas pessoas com SDF, e também se a extremidade do membro tem maior ou menor temperatura nestes pacientes”. O estudo contou com dois grupos de pessoas, as que sofrem de dor fantasma e as que não, com o objetivo “de cruzar dados e poder comparar os resultados”.
São desenvolvidos também testes sobre a variabilidade da freqüência cardíaca, nas quais o indivíduo permanece deitado durante 20 minutos para comprovar a relação da dor com a atividade do sistema nervoso autônomo parasimpático e simpático. Por outro lado, se avaliou a história clínica para saber a evolução do paciente da origem do problema até o momento da amputação. Os pesquisadores do estudo observaram indícios de que os pacientes cuja amputação tem uma origem traumática apresentam normalmente dor fantasma, diante dos que tiveram um cirurgia planejada. Na mesma linha, analisou-se o tipo de cirurgia realizada.
Parâmetros psicológicos e sociais
Por outro lado, os participantes da pesquisa preencheram questionários validados de tipo psicológico e sobre qualidade de vida que incluíam um mapa do corpo humano no qual tinham que indicar as áreas onde sentem a dor fantasma. “Vimos pessoas nas quais a SDF está totalmente desestruturada, sentem pontadas, formigamentos, cãibras, uma sensação incapacitante, sendo que é importante que as pessoas indiquem onde isso acontece, porque pode ser tratado”, afirma a pesquisadora, que agrega que o ideal seria começar a tratar a dor imediatamente depois da cirurgia.
Os pesquisadores concluem que a abordagem da dor deve ser multidisciplinar, “começando do pós-operatório imediato, considerando as quatro dimensões da dor, e tentando compreender as inter-relações dos componentes individuais de cada paciente”.