Estuda-se a eficácia do método de autocoleta vaginal em casa para detectar o vírus do papiloma humano
AC/INSP/DICYT O doutor Eduardo Lazcano Ponce e colaboradores do Instituto Nacional de Saúde Pública e da Secretaria de Saúde (SSA) publicaram na revista médica The Lancet os resultados do primeiro estudo comunitário de atribuição aleatória, no qual se comparou a efetividade dos métodos de detecção oportuna do câncer cérvico-uterino: o teste de DNA do vírus do papiloma humano (HPV) de alto risco, através de amostras autocoletadas no canal vaginal pelas participantes do estudo, e a tradicional citologia cervical (Pap), com amostras obtidas em clínicas por pessoas capacitadas. Em ambos casos avaliou-se a capacidade (sensibilidade e especificidade) de cada método para identificar, através de uma complementação diagnóstica por colposcopia e biopsia, as lesões precursoras do câncer invasor.
Este estudo foi financiado pela SSA do México, e justificou-se pela necessidade de melhorar a qualidade e eficiência dos programas populacionais de prevenção e controle do câncer cérvico-uterino. Ainda que existam evidências de que em pelo menos 10% das mulheres nas que se realiza a prova do HPV o resultado é positivo, sendo que a maioria delas não apresenta qualquer tipo de lesão, os serviços de saúde poderão ter certeza de que o grupo de mulheres positivas nesta prova deverá ser submetido a uma vigilância personalizada, porque detém mais possibilidades de desenvolver, nesse momento ou em um futuro próximo, uma lesão cervical.
Adicionalmente, o método de autocoleta vaginal em casa pode aumentar a cobertura da detecção, já que tem uma alta aceitação entre as usuárias e é de grande utilidade para mulheres com acesso limitado aos serviços de saúde em áreas marginais.
No estudo participaram 20.256 mulheres de 25 a 65 anos, provenientes principalmente de áreas rurais do Estado do México, Guerrero e Morelos. Foram distribuídas arbitrariamente em dois grupos: o do DNA de HPV (9.202 mulheres), que realizou a prova com autocoleta vaginal em casa, depois de receber orientação de enfermeiras capacitadas, e o de citologia cervical (Pap, 11.054 mulheres), que tiveram a amostra coletada na clínica. As mulheres dos dois grupos que obtiveram resultados positivos (HPV+ ou Pap) foram destinadas a um diagnóstico posterior com colposcopia para coleta de biopsia. O teste de HPV teve uma capacidade quatro vezes maior de identificar o câncer cérvico-uterino. Estes resultados são importantes porque apresentam uma estratégia de detecção fácil, econômica e confiável para regiões de baixos recursos ou marginais, nas quais as mulheres têm poucas oportunidades de realizar exames diagnósticos.
Em um comentário sobre a publicação, a Dra. Nubia Muñoz, do Instituto do Câncer da Colombia, e o Dr. Rolando Herrera, da Agência Internacional de Investigação sobre o Câncer (IARC) em Lyon, na França, afirmam que este teste foi um importante componente de um programa de pesquisa de câncer cervical implementado pelo Instituto Nacional de Saúde Pública do México e por outras instituições.
Os reconhecidos especialistas afirmam que até onde sabem, o México é o primeiro país no mundo que introduziu como política nacional a detecção primária do câncer cervical através do teste de HPV, com subseqüente complementação diagnóstica do Papanicolau em mulheres positivas à prova de HPV. Afirmam que a maioria dos epidemiológicos coincidem em que se trata da estratégia necessária para melhorar o controle do câncer cervical. Do mesmo modo, afirmam que o México estabeleceu uma ampla rede de laboratórios de alta tecnologia nos quais foram realizados milhões de testes nos últimos 4 anos.
Os doutores Muñoz e Herrera concluíram que a experiência no México é um exemplo do que se pode conseguir quando o juízo científico serve como guia para as políticas de saúde.