Igreja da Santíssima Trindade, de Segovia, é reproduzida em 3D para facilitar sua restauração
CGP/DICYT A Fundação do Patrimônio Histórico (FPH), em colaboração com o Laboratório de Fotogrametría Arquitetônica da Universidade de Valladolid, iniciou no dia 05 de março a reprodução em 3D da igreja da Santíssima Trindade de Segovia, um dos templos românicos mais importantes da província. Os trabalhos consistem em tirar fotos com um helicóptero de controle remoto para reproduzir o edifício e obter dados que contribuam para melhorar a planificação de sua restauração. Como explicou a DiCYT José Martínez, técnico do Laboratório de Fotogrametría Arquitetônica encarregado deste projeto, esta inovadora técnica permite evitar a introdução de maquinaria pesada em uma área de difícil acesso e diminuir custos.
Ainda que o vôo projetado tenha enfrentado algumas dificuldades a princípio, “já que o helicóptero precisa comunicar-se por satélite para decolar e o sinal GPS não chegava bem nessa área da cidade, por ser muito fechada”, conseguiu-se realizá-lo. “Fizemos um vôo em volta da igreja com a idéia de documentar o estado de sua cobertura e da parte superior das fachadas que não são visíveis do solo”, afirma o especialista, que detalha que os propósito é “documentar a igreja de forma tridimensional e conseguir uma espécie de “ata notarial” de seu estado atual, antes de qualquer intervenção”.
Em relação às características técnicas do sistema utilizado, José Martínez afirma que o vôo do helicóptero “projeta-se em forma de uma trajetória marcada em vermelho no software e faz uma espécie de zig-zag. Ao longo dessa trajetória “incluem-se uma série de ‘way points’, ou pontos de passagem, nos quais programa-se um evento, neste caso fotográfico, ainda que possam ser outros como jogar um spray ou coletar uma amostra, por exemplo.
“Uma vez projetado o vôo, as imagens são enviadas através de um cabo especial à memória interna do aparelho, que dispõe de um cartão para armazenar todas estas instruções”. Conforme explica Martínez, quando o dispositivo é acionado e sua rota é programada, “pode realizar sua missão de forma autônoma e, somente no momento em que termina o vôo, retoma-se o controle do aparelho para aterrissá-lo de forma manual”. No entanto, agrega, esta tarefa também poderia ser realizada de forma automática, “mas sempre é preferível fazê-la manualmente, para evitar problemas com falhas na conexão com os satélites GPS”.
O pesquisador da Universidade de Valladolid afirma que o aparelho é capaz de realizar todo o trabalho de maneira automática graças aos seus múltiplos sensores instalados, “sensores GPS, acelerômetros, inclinômetros, ou sensores de pressão atmosférica”.
Redução de gastos
Do mesmo modo, afirma que sua principal vantagem é o preço. “O vôo fotogamétrico tradicional é feito com aviões e está mais orientado à cartografia em grande escala. Até pouco tempo não existiam aparelhos que simulassem vôos fotogamétricos tradicionais de avião em escala de edifício”, indica. “O objetivo é reduzir custos em relação aos métodos de andaimaria tradicional e esquivar-se da dificuldade, em um centro histórico como o de Segovia, de mobilizar-se maquinaria pesada, guindaste, plataformas elevadoras, etc. Estes sistemas representam uma alternativa muito adequada”, agrega.
Além disso, o dispositivo possibilita “voar a alturas impossíveis para um avião, e graças a isso obtêm-se uma resolução muito alta, capaz de mostrar até uma moeda no solo, algo que com fotografia aérea é praticamente impossível”. O vôo dura cerca de 20 minutos. “O acionamento e carregamento do programa pode durar de 5 a 10 minutos, de modo que em meia hora toda a missão de vôo pode ter acabado”, conclui.
Ainda que este tipo de tecnologia de vôos aéreos não tripulados tenha começado na Alemanha, atualmente o país que mais o desenvolve é Israel. Além de sua aplicação em patrimônio, estes helicópteros estão sendo utilizados para salvamento, ação rápida e localização de pessoas que se encontram em áreas inacessíveis, e no âmbito ambiental, para localizar, por exemplo, focos de incêndio.
Exemplo de estilo românico
A igreja da Santíssima Trindade é uma das igrejas românicas mais genuínas de Segovia. Os primeiros documentos que a citam datam de 1240, ainda que tenha sido construída antes, no século XII. A parte mais primitiva está na cabeceira. É uma igreja com uma única nave, coberta por uma abóbada de canhão. Sobre o cruzeiro se levanta uma torre defensiva com arcos de arquivoltas. Ao sul tem uma galeria porticada de um estilo muito comum em Segovia. Em seu interior se destaca a capela dos Campos, construída em 1513, com um retábulo renascentista de pinturas de influência italiana.