Technology Spain , Salamanca, Tuesday, January 29 of 2013, 16:42

“Os países deveriam reter seu talento e conservar uma massa crítica de cientistas”

Margaret Murname, assessora científica do presidente dos Estados Unidos Barack Obama, visitou a Universidade de Salamanca para fazer parte do tribunal de uma destacável tese doutoral no campo da física aplicada

José Pichel Andrés/DICYT A pesquisadora irlandesa Margaret Murnane foi escolhida por Barack Obama para o posto de presidente do Comitê da Medalha Nacional de Ciências dos Estados Unidos, um prêmio entregue pelo próprio presidente americano aos cientistas mais distintos do país. Além deste posto chave, trabalha no Joint Institute for Laboratory Astrophysics (JILA), um dos principais centros de Física dos Estados Unidos, localizado no campus Boulder da Universidade do Colorado. Murnane mantém uma estreita colaboração com a Universidade de Salamanca, na qual foi membro do tribunal da tese doutoral de Carlos Hernández, orientada por Luis Plaja, pesquisador do Departamento de Física Aplicada.

 

Em declarações a DiCYT, Margaret Murnane destacou o valor das pesquisas de Carlos Hernández, com quem recentemente escreveu um artigo na revista científica Science sobre a forma de criar raios X utilizando um laser intenso, tema muito relacionado com a tese apresentada no dia 25 de janeiro com o título ‘Fuentes de luz coerentes de attosegundo baseadas na geração de harmônicos de ordem elevada: influência dos efeitos de propagação’, um estudo que impressionou a assessora de Obama. “É um dos melhores trabalhos que já vi, Carlos é a única pessoa no mundo que sabe fazer este tipo de cálculos e nós os aplicamos em experimentos feitos no JILA, que apresentam grande dificuldade”, afirmou.

 

Esta nova fonte de raios X tem muitas aplicações potenciais no campo da Nanotecnologia, segundo afirma a especialista. Os raios X produzidos são coerentes, isso é, mantém um regularidade que permite realizar medidas muito precisas, que abrem as portas a muitos desenvolvimentos tecnológicos. “Atualmente existem outras fontes de raios X, denominadas incoerentes, mas somente chegam a revelar imagens de coisas com mais de 15 nanômetros (um nanômetro é a milionésima parte de um milímetro). No entanto, a maior parte da nanotecnologia atual envolve estruturas de menos de 5 nanômetros e somente pode ser vista com este novo tipo de radiação”, assegura.

 

Por isso, o artigo publicado na Science pelas universidades de Salamanca, Colorado, Cornell e Viena “teve muita repercussão na indústria e no mundo da Ciência, porque é uma ferramenta única, sem ela não é possível ter acesso a essas dimensões tão pequenas”. E as colaborações entre o JILA e o grupo de Ótica Extrema de Luis Plaja não ficarão por aqui, já que “existem novos artigos em desenvolvimento”, assegura.

 

De fato, a relação aumentará a partir de agora, porque Carlos Hernández tem uma bolsa Marie Curie da União Européia, que lhe permitirá passar dois anos no JILA e um ano adicional em Salamanca. Este ponto provocou em Murnane a reflexão sobre a situação da Ciência espanhola e as oportunidades dos jovens. “Seria maravilhoso se Carlos pudesse voltar e desenvolver sua carreira científica na Espanha, as pessoas são o mais importante, cada país deve reter o talento e conservar uma massa crítica de cientistas para que possa avançar na Ciência e Tecnologia”, afirma.

 

Prestigio internacional

 

Na sua opinião, esse talento não falta na Espanha, que é “muito forte” no campo da Física  e, especificamente em Salamanca, cidade que já visitou em 1994 pela importância dos trabalhos científicos relacionados com a tecnologia laser. Neste sentido, Murnane destacou que os pesquisadores trabalham atualmente mais interconectados do que nunca, porque “hoje a comunicação e as publicações são instantâneas e é possível trabalhar com qualquer cientista do mundo, na China, Índia, Espanha ou Estados Unidos, onde seja”.

 

Em todos os casos, considera que o país que adotou aposta mais pela Ciência que a Europa, com alguma exceção. “Os países que mais estão investindo na Ciência são a Alemanha, os Estados Unidos, a China e Singapura”, firma. “Qualquer economia que quiser ir mais além da simples manufaturação deve investir muito na Ciência para pesquisar e desenvolver novos produtos e empresas spin-off”, comenta.

 

Neste sentido, no Comitê da Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos, presidido por ela, uma dezena de especialistas avalia os cientistas e engenheiros mais relevantes do país, mas “não só por sua excelência científica e sua produção na pesquisa, mas também no sentido de sua contribuição para a sociedade com relação à educação e desenvolvimento”, destaca a assessora do presidente Obama.

 

O futuro da Física

 

Apesar de sua posição, confessa que prever o futuro da Física é muito difícil, ainda que normalmente “sejam feitos relatórios para os próximos 10 anos” e dentre as perspectivas mais promissoras se destacam “os avanços da confluência da Nanotecnologia com a luz”.

 

As aplicações mais evidentes consistem em “armazenar informação em estruturas cada vez mais pequenas”. No entanto, existem outras possibilidades tão imprevisíveis, quanto práticas. Por exemplo, “um ramo da Nanotecnologia trabalha com partículas de tamanho nanométrico que absorvem diretamente a luz do sol e isso é suficiente para aquecer a superfície e evaporar sua parte externa, ainda que o resto da água esteja a temperatura ambiente”. Assim, “esta seria uma maneira de poder esterilizar em países do Terceiro Mundo onde não exista a possibilidade de aquecer instrumentos”.

 

Dentre as perspectivas de futuro, Murmane também falou do futuro laser de petavatio do Centro de Laseres Pulsados (CLPU) de Salamanca, um projeto promovido por alguns cientistas de Salamanca com os quais mantém relações. Ainda que não se trate exatamente do campo de estudo que domina, a pesquisadora ressaltou que este tipo de laser se destina a buscar os limites da natureza para obter novos conhecimentos para a Física.