Pesquisa-se fatores que causam seca ocular nos usuários de lentes de contato
Cristina G. Pedraz/DICYT Segundo as estimativas, cerca da metade dos abandonos do uso de lentes de contato se deve a incômodos relacionados, freqüentemente, com a seca ocular. A indústria trabalha há vários anos para solucionar este problema e reduzir estas porcentagens tão elevadas, de modo que é necessário estudar a fundo todos os fatores relacionados com a seca ocular e sua relação com o uso de lentes de contato. Pesquisadores do Grupo de Superfície Ocular do IOBA (Instituto de Oftalmobiologia Aplicada) de Valladolid trabalham nesta linha e atualmente desenvolvem um estudo no qual querem incluir cerca de 60 pacientes.
Conforme explica María Jesús González, pesquisadora do IOBA, o trabalho é parte da tese doutoral de Vicente Martín e realiza-se junto com a Universidade do Minho, de Braga (Portugal). O principal objetivo, indica, é detectar as diferenças existentes entre os usuários de lentes de contato com sintomas clínicos (olhos vermelhos, secreção de lágrimas, etc.) e os usuários sem sintomas. Ainda que se trate dos primeiros passos nesta linha, encontrar estas diferenças “permitiria detectar previamente os pacientes que podem desenvolver problemas e abandonar o uso de lentes de contato”.
Dentre os fatores a serem analisados ao longo do estudo, encontram-se os ambientais. “Não é a mesma coisa estar em Valladolid, com uma umidade relativa de 40-45%, do que estar em uma área de costa, com 80% de umidade. Os usuários de lentes de contato se sentem mais confortáveis com mais umidade”, explica a especialista. Do mesmo modo, outros fatores ambientais como o fluxo de ar, a temperatura ou a pressão atmosférica também afetam o conforto destes usuários. Para estudar estes fatores, os pesquisadores submeterão os sujeitos do objeto de estudo a diversas condições ambientais na Câmara de Ambiente Controlado que o IOBA construiu no próprio centro.
Ademais, analisarão marcadores moleculares, “proteínas segregadas pela superfície do olho, ou a lágrima, que de alguma maneira podem indicar o que acontece a nível molecular nestes pacientes”, agrega González. Finalmente, estudam a sensibilidade da córnea, a fim de “saber se esta sensibilidade está relacionada com o fato do paciente ter mais ou menos sintomas de seca”.
Voluntários com miopia
O Grupo de Superfície Ocular trabalha há dois anos no projeto e já avaliou cerca de 45 sujeitos. Para completar o estudo, precisam de mais voluntários, homens e mulheres de 18 a 45 anos, miopia de até 5 dioptrias e que usem ou não lentes de contato.
O voluntário usuário de lentes de contato deve realizar cinco visitas: na primeira serão efetuados testes necessários para saber se cumpre ou não os critérios de inclusão no estudo; nas quatro posteriores será submetido a diversas condições ambientais controladas durante um tempo determinado, com dois tipos de lentes diferentes, realizando tarefas como assistir televisão ou utilizar o computador. No caso dos voluntários míopes que não sejam usuários de lentes de contato, somente devem fazer uma visita na qual realizem todos os testes.
Instalação única no mundo
A Câmara de Ambiente Controlado do IOBA está formada por 17.000 kg de aço, podendo recriar as condições ambientais extremas as que se submete o olho humano em determinadas situações, como os vôos transoceânicos. Com esta câmara é possível calibrar características ambientais como o grau de umidade, a pressão ou a temperatura, o que permitirá realizar todo tipo de testes com novos medicamentos e soluções oftalmológicas.
Neste sentido, um dos problemas que a Câmara pode ajudar a resolver é a Síndrome do Olho Seco (redução da quantidade de lágrimas produzidas), que cada vez afeta um maior número de pessoas. Até agora os estudos clínicos desenvolvidos para minimizar seus efeitos não se baseavam em condições padronizadas, tampouco em sistemas para reproduzir de forma eficiente as condições extremas as que se submetem os humanos, como os vôos, os ambientes de trabalho com ar condicionado, calefação sem uma adequada renovação do ar, ou determinados trabalhos na indústria.
Do mesmo modo, as instalações servirão para averiguar com fundamentos científico como se comportam determinados medicamentos, a tolerância às novas lentes de contato e soluções de limpeza e manutenção, além de desenhar novas técnicas de diagnóstico para doenças de superfície ocular, como a alergia. Finalmente, também ajudará os cientistas a avaliar as conseqüências da aplicação crônica de determinados medicamentos, ou os efeitos da cirurgia refrativa.