Pesquisadores do Ibiomed observam uma proteína que induz à morte células tumorais hepáticas
Cristina G. Pedraz/DICYT Pesquisadores do Instituto de Biomedicina da Universidade de Léon (Ibiomed), em colaboração com cientistas da Universidade de Mainz (Alemanha), realizaram um novo avanço relativo aos efeitos da melatonina, um hormônio presente em nosso organismo, sobre a apoptose, ou morte celular programada, em células tumorais do fígado. Especificamente, o grupo orientado por José Luis Mauriz descobriu que a melatonina em quantidades terapêuticas aumenta a apoptose sem danificar as células sanas e que o faz através da proteína FoxO3a, capaz de entrar no núcleo das células e induzir a expressão de outra proteína pró-apoptótica denominada Bim.
A pesquisa foi publicada recentemente na revista científica British Journal of Cancer e abre um novo caminho ao tratamento do tumor hepático mais freqüente, o hepatocarcinoma, o quinto com mais casos registrados no mundo e o segundo com maior taxa de mortalidade de pacientes em cinco anos.
Conforme explica à DiCYT José Luis Mauriz, este novo avanço insere-se na linha de pesquisa sobre câncer hepático do grupo do Ibiomed. “Há vários anos trabalhamos com diversas substâncias, dentre elas a melatonina, um hormônio normalmente sintetizado pelo organismo de todos os animais e que em níveis hormonais têm funções antioxidantes e de manutenção dos ritmos biológicos dentro do organismo”, detalha.
O grupo se interessou pelos efeitos deste hormônio no fígado, no qual tem um trabalho fundamentalmente antioxidante. Quando começaram a trabalhar com esta substâncias nas células tumorais hepáticas humanas, observaram que a melatonina era capaz de induzir sua apoptose, respeitando as células sadias. “Normalmente estas células tumorais se caracterizam por dois aspectos diferentes, mas complementares. Por um lado, seu ciclo celular está desregulado, as células se dividem muito mais rápido do que o normal; e por outro lado a apoptose, ou a morte celular programada, também está desregulada, o que as torna praticamente imortais”.
Ao subministrar doses terapêuticas de melatonina, comprovaram que as células tumorais morriam, resultados que foram publicados em diversos artigos científicos. Seu objetivo depois foi aprofundar o estudo dos efeitos da melatonina sobre a apoptose, focando-se em um via denominada FoxO, relacionada com as proteínas do mesmo nome. Trata-se de fatores de transcrição, isso é, proteínas capazes de entrar no núcleo das células e induzir a expressão de outras proteínas determinadas.
“Observamos que quando administramos melatonina a células tumorais humanas do fígado, sua morte celular aumenta, e isso acontece graças a que, especificamente, a proteína FoxO3a é capaz de entrar no núcleo das células e induzir a expressão da Bim, uma proteína que induz a morte das células”, precisa.
Como método de controle, administraram as mesmas doses de melatonina a células hepáticas humanas normais e comprovaram que nelas o efeito é distinto, já que não induz sua morte. Assim, afirma José Luis Mauriz, a melatonina pode ser “uma substância interessante pelo menos como coadjuvante, isso é, como acompanhamento de outros tratamentos no hepatocarcinoma.
Contudo, trata-se ainda de um estudo preliminar. “Para que este tratamento chegue aos pacientes precisaríamos continuar aprofundando o estudo de mais vias da FoxO em laboratório, em células tumorais, e passar depois a animais para finalmente chegar a humanos”, adverte.
Outro resultado observado neste estudo “in vitro” sobre células tumorais é que os pacientes com pior prognóstico “são os que têm a FoxO mais inativa, funcionando a níveis mais baixos”. “Verificamos que a melatonina induz o funcionamento da FoxO, de modo que acreditamos que estes resultados são especialmente interessantes neste tipo de pacientes”, agrega.
Colaboração com a Universidade de Meinz
O grupo de pesquisa de José Luis Mauriz trabalha com Javier González Gallego, diretor do Ibiomed, em doenças digestivas e hepáticas. Do mesmo modo, fazem parte do Ciber (Centro de Investigação Biomédica em Rede) de Doenças Hepáticas e Digestivas, uma rede nacional de pesquisa neste campo.
No presente trabalho os pesquisadores colaboraram com a Universidade de Meinz, especificamente com os departamentos de Medicina Interna e de Transplantes e Cirurgia Hepatobiliar, um centro de referência internacional. Uma das pesquisadoras do grupo, Sara Carbajo Pescador, realizou um estágio de três meses nesta universidade alemã para completar o trabalho de pesquisa desenvolvido em León.
Referência bibliográfica
Carbajo-Pescador S., Steinmetz C., Kashyap A., Lorenz S., Mauriz JL., Heise M., Galle PR., González-Gallego J., and S Strand 2013 “Melatonin induces transcriptional regulation of Bim by FoxO3a in HepG2 cells”. British Journal of Cancer doi: 10.1038/bjc.2012.563