Espacio España , León, Jueves, 21 de octubre de 2010 a las 17:12

“Se demonstrarmos que dois planetas próximos possuem sinais de vida, poderíamos pensar que isto é uma constante no Universo”

Astrobiólogo Ricardo Amils apresenta em León os avanços nos estudos sobre a vida em condições extremas

Antonio Martín/DICYT O rio Tinto e Marte compartem uma interessante característica física: ambos são vermelhos. Isso se deve, fundamentalmente, à presença de ferro. Ricardo Amils, catedrático de Microbiologia da Universidade Autônoma de Madri (UAM) e pesquisador associado ao Centro de Astrobiologia (CSIC-INTA), centro ligado à NASA Astrobiology Institute (NAI), é um grande conhecedor do rio onubense, no qual desenvolveu parte de seu trabalho científico. Através de sua atividade científica no rio vermelho, pretende saber se o planeta vermelho tem as mesmas condições para hospedar a vida, o que revelaria uma resposta que assola a humanidade há tempos: se estamos sozinhos ou acompanhados. Amils visita amanhã, 21 de outubro, a León, para proferir a conferência no Ciclo de Conferências de Atualidade Científica e Cultural da Fundação Carolina Rodríguez e da Universidade de León, intitulada Vida em condições extremas: o caso de Tinto.

 

Neste ato, Amils explicará as descobertas científicas realizadas nos últimos anos sobre os extremófilos, microorganismos que vivem sob condições que antes eram consideradas impossíveis para a vida: temperaturas muito altas ou muito baixas, uma composição química ácida ou alcalina, uma elevada salinidade... A região das minas do rio Tinto (Huelva) é um território idôneo para este tipo de pesquisa, pelas características de suas águas vermelhas, de grande acidez, com alto conteúdo de metais pesados e escassez de oxigênio, onde foram encontrados extremófilos que se alimentam apenas de minerais e se adaptam a habitats extremos. Há um tempo a NASA o escolheu como objeto de estudo, em razão de sua possível semelhança com o ambiente do planeta Marte.

 

A pesquisa na região do rio Tinto, explica a DiCYT Amils, inicialmente pretendia “averiguar a gênese” desse ambiente extremo. O leito esteve muito relacionado com a atividade mineira e “há 20 anos pensava-se que seu ambiente era produto da contaminação industrial”. No entanto, através de diferentes pesquisas científicas “acumulou-se dados que permitem afirmar que se trata de um ambiente incomum, que se distingue por seu pH ácido e elevada concentração de ferro”.

 

Nestas condições extremas, os cientistas encontraram minerais de ferro produzidos pela atividade biológica, o que serviu para considerar o rio “um análogo geoquímico de Marte”, explica Amils. Entre estes minerais derivados da presença de organismos vivos está a jarosita, um sulfato de ferro que também foi trazido de Marte nas missões de exploração realizadas neste planeta. “Esta atividade biológica não é complexa, mas atípica”, ressalta Amils. É realizada por microorganismos capazes de oxidar o ferro e reduzi-lo, explica o especialista, como Lectospirilum ferroxidans ou Acidithiobacillus ferroxidans. “Na Microbiologia, tradicionalmente as pesquisas centram-se em patógenos, por afetar a saúde dos seres humanos. Esta especialização produz uma falta de conhecimento em outros microorganismos que empregam os ciclos de carbono e ferro para a vida”. Há alguns anos os especialistas nesta matéria começaram a analisar a vida em condições extremas, que estão protagonizadas por estes organismos, e podem abrir a porta a importantes descobrimentos futuros.

 

Vida em Marte

 

Uma das portas abertas pela pesquisa no rio Tinto é determinar as “condições de habitabilidade” de uma região, uma condição prévia para que exista vida. Este fator é extremamente importante na pesquisa astrobiológica em Marte, o planeta mais próximo a nós e que possui mais possibilidades tem de hospedar ou haver hospedado vida do nosso sistema solar. “Os astrobiólogos acreditam que existiu vida ali, mas o método científico requer comprovação”, indica Ricardo Amils. Por isso, explica o catedrático, “várias missões espaciais tratarão de afinar a metodologia nos próximos anos”. Segundo afirma, em 2011 a NASA lançará o Mars Science Laboratory para comprovar as condições de habitabilidade do planeta vermelho. A Agência Espacial Européia (ESA) também está preparando para 2015 ou 2016 um projeto desenvolvido para encontrar sinais de vida em nosso vizinho planetário.

 

“Cada vez está mais claro que existem condições de habitabilidade em Marte. Se determinarmos que dois planetas próximos como Terra e Marte têm sinais de vida, poderíamos pensar que esta circunstancia é uma constante no Universo”, indica.

 

Se as próximas pesquisas científicas indicarem o contrário, que em Marte não existe nem existiram organismos vivos, Ricardo Amils não perde a esperança de encontrar outros habitantes em outros planetas: “Isto não quer dizer que não houve vida em outros lugares”. No entanto, adverte que “se a vida externa fosse muito diferente a que conhecemos, possivelmente seria muito difícil determinar sua existência”. Isso é, não tão diferente como pinta a ficção científica: “Em Marte nos referimos a microorganismos e não a homenzinhos verdes”.

 

A importância de encontrar água em Marte

 

A presença de água é uma evidencia da existência de vida, mas poderia existir água sem que existissem organismos vivos. Um recente trabalho do Conselho Superior de Pesquisas Científicas, no qual participou Ricardo Amils, aperfeiçoou a metodologia que permite datar a presença de água em Marte de forma mais exata. O método parte da análise dos filossilicatos gerados pelo impacto de meteoritos. A pesquisa coordenada por Alberto García Fairén, que atualmente trabalha na NASA, permitiu comprovar a existência de grandes quantidades de água em Marte, tanto de forma liquida, como sólida (gelo), 600 anos depois do que se acreditava até agora. Publicada na prestigiosa revista científica Proceedings of the National Academy of Science (PNAS) em julho, colaboraram cientistas da Espanha, França, Itália, Alemanha, Rússia e Estados Unidos.