Alimentación España , Salamanca, Viernes, 02 de diciembre de 2011 a las 15:49

“Somos como uma empresa e nosso produto é o conhecimento”

Juan Arellano é o novo diretor do Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia de Salamanca (IRNASA-CSIC) e assume o desafio de melhorar os resultados científicos, apesar da crise

José Pichel Andrés/DICYT O Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia de Salamanca (IRNASA), pertencente ao Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), tem um novo diretor. Juan Bautista Arellano Martínez, que ocupa o cargo de Rafael Martínez-Carrasco Tabuenca pelos próximos quatro anos. Como responsabilidade tem o desafio de manter e aumentar a excelência da pesquisa em um contexto complicado, porque a crise econômica também afeta à ciência. Em uma entrevista concedida a DiCYT explica que aumentar a visibilidade do instituto e sua relação com a Universidade de Salamanca e empresas são algumas das peças chaves para conseguí-lo.

 

Arellano estudou na Universidade de Granada e fez sua tese doutoral na Estação Experimental de Zaidín, um centro de Ciências Agrárias também pertencente ao CSIC. Depois passou pela Universidade de Glasgow (Reino Unido), pela Universidade de Umea (Suécia) e pela Universidade de Girona. No ano 2000 chegou a Salamanca com um contrato pós-doutoral, conseguindo em 2011 um cargo de cientista titular no IRNASA. “Minha atividade científica sempre esteve ligada à fotosíntese em plantas e outros organismos. Dentro desta linha de pesquisa, abordei estudos bioquímicos de estresse por metais pesados e altas intensidade de luz, junto com outros relacionados com resposta de defesa em plantas diante da formação de espécies reativas de oxigênio”, afirma.

 

Em seu novo cargo terá que dialogar com todo o pessoal do instituto, assegura, “a fim de otimizar todos os recursos que possuímos”. O objetivo principal do IRNASA é “atingir o caminho da excelência científica exigido pelo CSIC, estamos lutando para chegar ai, ainda que a crise obstaculize nossos planos devido a dificuldade cada vez maior de captar fundos e recursos humanos”. Em qualquer caso, o objetivo é “aumentar nossos índices de produção científica e a captação de fundos”, que são os indicadores que marcam esta excelência. “Somos como uma empresa e nosso produto é o conhecimento que geramos para dar soluções científicas e técnicas a necessidades socio-econômicas que possam surgir, sempre em consonância com um desenvolvimento sustentável”, afirma Juan Arellano.

 

Linhas de pesquisa

 

Na busca desse conhecimento, há várias linhas de pesquisa prioritárias, ainda que todas estejam relacionadas com o desenvolvimento sustentável de sistemas agrosilvopastoris. Uma linha se encarrega das parasitoses em animais e das zoonoses, também transmissíveis ao homem, “desenvolve kits de diagnóstico e vacinas antiparasitárias, e tem importantes laços com universidades e empresas, bem como um grande compromisso com a cooperação para o desenvolvimento”, comenta o diretor. Outra linha estuda estratégias de prevenção e correção de solos e águas poluídas por pesticidas e elementos tóxicos, o que é feito por uma equipe “muito competitiva” que atualmente recebe fundos da União Européia. “Há outras duas linhas que trabalham na interação entre plantas e microorganismos, e que aportam conhecimentos sobre as bases moleculares dos benefícios que os microorganismos podem proporcionar ao desenvolvimento das plantas e, quando falamos de espécies agrícolas, a maior produção de cereais ou outras espécies de interesse agronômico”. Alguns pesquisadores destas linhas matem de forma contínua convênios com empresas e estão muito comprometidos com a transferência tecnológica. Finalmente, há outro grupo, “no qual me incluo”, comenta o diretor, pertencente a linha de estresse abiótico, que analisa “os efeitos que o aquecimento global e outras situações de estresse têm no desenvolvimento e produçao de determinadas espécies agrícolas”.

 

Precisamente, o contato com as empresas é um dos objetivos do instituto. Um exemplo de colaboração com empresas é o grupo que trabalha com parasitose, que também conseguiu várias patentes nos últimos anos; e outro é o grupo de pastos, que trabalha com cultivos energéticos e biofertilizantes, possuindo vários convênios com algumas companhias deste setor.

 

Biorreator único em Castela e Leão

 

Para fortalecer esta relação com as empresas, o novo Serviço de Biologia Molecular pode ser um fator importante. “Temos um biorreator com uma capacidade de 50 litros que é único em Castela e Leão, e que pode dar serviço a empresas ou OPIs (organismos públicos de pesquisa) que necessitem produzir proteínas recombinantes em média-grande escala”, destaca.

 

Outro serviço do instituto, também muito relevante, é a Análise e Instrumentação, oferecida aos agricultores da província de Salamanca por um serviço exterior de análises, subvencionado em parte através de convênios que o IRNASA matem com a Câmara Agrária Provincial e a Prefeitura de Salamanca. “Dentre estas análises destacam-se a de solos e cereais, mediante os quais os agricultores podem saber o estado nutritivo de suas terras e o aporte de fertilizantes que requerem, além de conhecer parâmetros de qualidade do grão colhido com a aplicação de tecnologia de infravermelho”, afirma Arellano.

 

De outro lado, o IRNASA possui uma fazenda de 70 hectares nos quais é possível demarcar áreas para que as empresas interessadas possam realizar estudos de sementes e adubos. O mesmo ocorre com as estufas do centro, idôneas para realizar testes controlados.

 

Empresas

 

A relação com as empresas é crucial para compensar a falta de recursos da crise econômica. Ademais, “ainda que o número de projetos possa ser semelhante, os fundos econômicos para cada projeto foram reduzidos”. Por isso, o diretor aposta em “ampliar horizontes” e atentar-se à União Européia. “Temos dois projetos transfronteiriços com Portugal e pesquisadores que estão solicitando projetos em outras convocatórias do VII Programa Marco da União Européia, ainda que seja uma via complexa e com grande carga administrativa, exigência do trabalho que implicar unir pesquisadores de outros países e empresas”, afirma. Também “enfrentamos uma situação em que o número de cargos de Cientista Titular convocados pelo Ministério da Ciência e Inovação foi reduzido nos últimos anos. Serve como exemplo o fato de em 2007 terem sido convocados 250 cargos de Cientista Titular, enquanto no ano vigente foram convocados somente 30, de modo que “o recorte é substancial”, afirma.

 

Neste sentido, há “grupos de pesquisa muito comprometidos com o instituto que se preocupam com a captação de fundos e capital humano. Estes são os grupos que devem ser potencializados, já que são os motores do instituto”, indica, destacando por sua vez o trabalho de gestão, pouco reconhecido e carregado de trâmites, que as vezes são necessários para manter de forma constante o financiamento e o pessoal contratado. O apoio a estes grupos com técnicos e ajudantes é importante, já que “possibilita que a atividade de pesquisa possa ser melhorada”. Também deve-se mencionar que o pessoal pesquisador em formação e na ativa é “seiva de novo conhecimento”, vindo com “novas idéias” e “grande energia e entusiasmo, de modo que devem ser incorporados a estes grupos motores do instituto”.

 

No entanto, para aumentar o número de novos pesquisadores em formação e na ativa possam é imprescindível aumentar a visibilidade do IRNASA, outra aposta de Arellano. “A visibilidade consiste em aumentar a relação com a Universidade de Salamanca, temos várias unidades associadas e projetos conjuntos, mas deveríamos participar em programas de pós-graduação e de mestrado, porque são o caminho de maior contato com os alunos, fonte da qual podemos captar o pessoal pesquisador em formação”, comenta. O Centro Hispanoluso de Investigações Agrárias (CIALE) é crucial nesta relação: “deve-se estabelecer mais laços, é fundamental que os dois únicos centros de Ciências Agrárias localizados em Salamanca tenham mais projetos comuns”.

 

Maior visibilidade

 

A visibilidade também pode ser aumentada pela internet. “As novas ferramentas como Youtube ou as redes sociais são outra maneira de promover o instituto. Para um pesquisador interessado em divulgar sua atividade científica, a internet permite chegar a qualquer lugar do mundo”, afirma.

 

Neste sentido, é importante que a sociedade também descubra a utilidade do IRNASA. “Talvez um cidadão não veja de forma imediata os progressos que conquistamos, mas nosso objetivo é produzir também de maneira sustentável. Salamanca está muito relacionada com os pastos e é oportuno que a população rural nãoo deixe estas regiões. Do mesmo modo, é uma região muito produtiva de cultivos de cereais e milho, e alguns esforços realizados por nossos grupos estão relacionados com a pesquisa de biofertilizantes”, que devem substituir paulatinamente os adubos convencionais, segundo a normativa européia.

 

O campo está vinculado com estes avanços na pesquisa, mas “também a pesquisa básica realizada no IRNASA é fundamental para saber mais sobre aspectos de fisiologia, biologia e bioquímica das plantas e microorganismos”. Neste aspecto não se vê uma aplicação imediata, mas “estudar as bases moleculares de muitos destes processos serve para saber como se comporta um cultivo diante de um estresse ambiental ou como é possível melhorar sua produção. Definitivamente, “a melhoria dos processos agropecuários e de questões como a de evitar que a população que se dedica a estas atividades decida deixar de fazê-lo, está muito relacionada com a pesquisa realizada no IRNASA”, afirma.