Alimentación España , León, Martes, 23 de marzo de 2010 a las 17:03

Túnel do AVE de Pajares descobre materiais geológicos que reescrevem a história da Península Ibérica

CSIC descobre paleovales ao norte e sul do porto que demonstram que a Península Ibérica emergia do mar há 444 milhões de anos e foi alcançada por uma glaciação

Antonio Martín/DICYT Quando o primeiro trem de alta velocidade atravesse Pajares pelo túnel que foi escavado no porto, os viajantes percorrerão vales glaciais de idades remotas até agora desconhecidos. As águas de imensos glaciais (de até um quilômetro de altura) pressionaram e erodiram as rochas configurando estas formações geológicas há 444 milhões de anos. A Ciência havia considerado que a atual Península Ibérica estava submersa no mar naquela época, mas uma pesquisa do CSIC (Centro Superior de Investigações Científicas) reescreveu a história. Rochas glaciais identificadas em Telledo (Astúrias), Pontedo, Casares de Arbás e Viadango de Arbás (província de León) demonstram que esta parte estava então em superfície e que foi impactada por uma glaciação que desencadeou uma extinção massiva de espécies, maior que a dos dinossauros.

 

A descoberta deste material partiu da inquietude do geólogo da construtora do túnel de Pajares. Enrique Bernárdez encontrou algumas rochas estranhas e contatou o também geólogo do CSIC Juan Carlos Gutiérrez-Marco. As obras haviam trazido à luz depósitos glacio-marinhos desconhecidos na Cordilheira Cantábrica. “Em 2006, publicamos na Geogaceta da Sociedade Geológica Espanhola o que encontramos nas sondagens realizadas em Telledo e em Pontedo, mas não tínhamos resolvida uma pergunta que deixava em aberto a datação que realizava a Geologia oficial da história da Península Ibérica: “porquê não existiam lacunas na sedimentação do material”, lembra a DiCYT González-Marco.

 

Uma pesquisa que acaba de ser publicada em Geology, a revista número um deste setor do conhecimento, “a Nature da Geologia”, recompõe o lugar da Península Ibérica no Ordoviciano Superior, como se fosse uma nova peça de um quebra-cabeças sobre a posição das massas terrestres na época em que a vida no planeta começava a colonizar a terra a partir do mar. “Na Cordilheira Cantábrica existem materiais sedimentados de até 470 milhões de anos, mas não havia testemunho da etapa entre 443 até 470 milhões de anos, isto é, existiam o que denominamos lacunas estratigráficas”. Estes materiais de 470 milhões de anos encontram-se na formação dos Barrios de Luna (León) e a ausência de testemunhos do Ordoviciano Médio e Superior, dois fases de um dos períodos da Era Paleozóica, fizeram com que os pesquisadores pensassem que algum acontecimento impediu a sedimentação destes materiais.

 

O macro-continente Gondwana e a Península Ibérica

 

Naquele momento, um macro-continente chamado Gondwana (que abarcava os territórios das atuais América do Sul, África, Península Arábica, Índia, parte da China e Austrália), estava situado no Hemisfério Sul, entre o Equador e o Pólo. Sua posição era oblíqua com relação à atual, isto é, a Austrália estava em zonas equatoriais e a África e Arábia ao sul. A Península Ibérica ocupava zonas paleoantárticas, entre os 60 e 80 graus de latitude sul. Uma glaciação originada ao final do período geológico levou o gelo à África e à Península Arábica. O túnel do AVE permitiu que se descobrisse que este gelo chegou à Península Ibérica, o que desmonta a teoria que a situava submersa nesse tempo. “As glaciações produzem-se exclusivamente se existe terra, como, por exemplo e na atualidade, na Groelândia ou Antártida. Isso quer dizer que se existem sedimentos glaciomarinhos na Cordilheira Cantábrica esta estava acima do nível do mar”, explica González-Marco.

 

Os paleovales escavados pelos glaciais que encontraram os pesquisadores estão na superfície, em Viadangos de Arbás e, especialmente, em Casares de Arbás, “o mais espetacular”, segundo definição do cientista do CSIC. Pedras rasgadas pelo gelo e listradas com marcas brancas, que confirmam a compressão do peso do gelo e o arrasto de argila sobre estas trilhas, demonstram a existência de glaciais na zona. Os cientistas estimam que uma camada de centenas de metros, até quase um quilômetro, estendia-se nessa época sobre o atual norte da província de León e o sul de Astúrias. Deve-se ter em conta que a Cordilheira Cantábrica formou-se muito tempo depois, há 300 milhões de anos, por um dobramento varisco. “Ademais, é a primeira descoberta na Europa da existência desta glaciação”, aponta González-Marco.

 

Fósseis, outro testemunho

 

Os vales encontrados são formados pela ação da calota glacial e provocados pela drenagem interna e são muito diferentes dos criados pelas correntes de água nas zonas montanhosas. Estes paleovales se estabelecem pela ação da água subglacial. Junto com estes materiais inorgânicos, para confirmar a existência da glaciação nesta zona ibérica, os pesquisadores aportaram outras provas: fósseis desta idade. Na localidade de Valdeteja foram encontrados restos de braquiópodos, animais marinhos com duas válvulas que chegaram a existir até os dias atuais. Estes seres acostumados a águas frias, no momento da glaciação e posterior extinção em massa, colonizaram os nichos que haviam deixado as espécies extintas. Estes fósseis só haviam sido descritos na Espanha em Almadén (Cidade Real). “Com a descrição destes organismos pôde ser confirmada a existência destes paleovales”, explica González-Marcos. O trabalho de identificação dos fósseis foi levado a cabo com Enrique Villas, prestigiado paleontólogo da Universidade de Zaragoza.

 

Esta pesquisa permitiu confirmar também a tese da localização das terras emergidas da Ibéria no macro-continente Gondwana. Estudos anteriores de González-Marco e autores britânicos postulavam que se posicionava em frente à Líbia e Egito, no lugar da costa atlântica atual marroquina. Os fósseis ordovicianos ibéricos são muito parecidos ao encontrados na Líbia, Argélia e na Península Arábica. Ademais, como agora se sabe o que aconteceu na Cordilheira Cantábrica, todo o norte da África cobriu-se de gelo nesse período geológico, neste caso com calotas medindo entre um e três quilômetros.

 

Em busca das morainas

 

A pesquisa continua agora com a procura das morainas dos glaciais que deixaram sua pegada no território cantábrico, denominados tilitos. Esta procura é realizada atualmente na província de León e são previstos grandes resultados científicos. Segundo adianta González-Marco, “o melhor está por vir”.

 

A grande extinção

 

O período Ordoviciano é considerado “o momento no qual a vida marinha começa a colonizar a terra”, expõe González-Marco. A conquista das massas terrestres era ainda incipiente, uma vez que estima-se que a vida marinha representava 99% do total. Surgem as primeiras plantas terrestres, musgos fundamentalmente, e aparecem alguns artrópodes anfíbios. Paralelamente, outro fenômeno ocorre: “a grande biodiversificação animal. Os animais começam a utilizar diferentes estratégias para colonizar ambientes até agora inexplorados, como o subsolo marinho”. A vida é mais complexa que em toda a história anterior da Terra. A temperatura do planeta é muito alta com relação à atual, talvez pelo efeito estufa que ocasiona o CO2 (os níveis eram 15 vezes superiores ao momento presente). E por este motivo é desencadeada uma grade extinção, maior inclusive que a que sofreram os dinossauros há 65 milhões de anos. “Produz-se uma curta, mas intensa, glaciação e desaparecem 95% dos animais e das plantas”, relembra o especialista do CSIC.