Instabilidade cromossômica em tumor é indício de possíveis recaídas
JPA/DICYT Pesquisas relacionadas com o processo de divisão celular conhecido como mitose sugerem que, quando um tumor primário apresenta instabilidade cromossômica, são maiores as possibilidades de que um paciente tenha recaídas ainda que o tumor haja sido tratado com sucesso. Por isso, Rocío Sotillo, pesquisadora espanhola do European Molecular Biology Laboratory de Monterotondo, próximo à Roma (Itália), e autora de um recente estudo sobre o tema, aconselha aos especialistas clínicos a analisar este fator e não limitar-se somente a tratar o câncer, como explica em visita realizada ao Centro de Investigação do Câncer de Salamanca.
A mitose é uma divisão celular na qual ocorre uma duplicação do material genético, de maneira que cada célula filha recebe o mesmo número de cromossomos, corpos em forma de bastões de DNA que guardam a informação genética. No entanto, podem ocorrer erros durante este processo, fazendo com que a divisão não seja perfeita e uma célula receba mais cromossomos que a outra, o que se conhece por aneuploidias. “Estamos estudando a maneira pela qual alterações na mitose podem induzir aneuploidias, que são importantes para iniciar a formação de tumores e sua recorrência”, assinalou a cientista em declarações a DiCYT.
“O problema é que, se um tumor é tratado com terapias dirigidas e desaparece, pode reaparecer de forma mais agressiva e não responde aos tratamentos iniciais”, adverte a especialista. Neste sentido, a instabilidade cromossômica tem um papel importante em facilitar essa recorrência tumoral, segundo um de seus últimos estudos.
Proteína chave
Em concreto, Rocío Sotillo se centrou no estudo da proteína MAD2. “Os níveis desta proteína tem que estar muito bem regulados para que ocorra uma correta divisão das células e não haja aneuploidias. Observou-se que tanto a redução como a superexpressão de MAD2 leva à aneuploidias e à instabilidade cromossômica e, portanto, a tumores”, assinala.
Nos tumores humanos esta proteína está superexpressa e, em modelos de camundongo, a pesquisadora confirmou que mediante a superexpressão de MAD2 ocorre instabilidade cromossômica e tumores.
O mais importante deste trabalho, desenvolvido fundamentalmente no Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York, apesar de trasladado à Itália recentemente, são suas implicações nas terapias dirigidas contra o câncer. Por isso, frisa que os profissionais devem “prestar atenção na instabilidade cromossômica no tumor primário, o que não se limita a tratá-lo, somente, porque a instabilidade cromossômica no tumor primário pode resultar em que inicialmente se responda bem ao tratamento, mas que posteriormente ocorra recorrência tumoral”, assegura.
A linha de pesquisa de Rocío Sotillo está próxima à de alguns dos laboratórios do Centro do Câncer, de maneira que não descarta que a partir desta visita, na qual ofereceu um seminário de pesquisa, possa ter lugar também uma futura colaboração com os pesquisadores de Salamanca.