Alimentación España , Burgos, Lunes, 05 de septiembre de 2011 a las 17:40

Moradores de Atapuerca comiam carne de tartaruga há mais de um milhão de anos

Estudo dirigido por Ruth Blasco, pesquisadora do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social, revela que estes hominídeos alimentavam-se destes animais no Pleistoceno Inferior

Ruben Arránz/DICYT Os hominídeos que habitavam a jazida de Atapuerca (Burgos) há 1,2 milhões de anos alimentavam-se de carne de tartaruga (Testudo hermanni) que extraiam do interior do animal com a ajuda de uma ferramenta de pedra. As marcas que acidentalmente deixavam estes humanos no osso do quelônio quando tentavam retirar sua parte macia com uma ferramenta deste tipo permitiram concluir que este fazia parte de sua dieta. Assim revela o artigo publicado por Ruth Blasco, pesquisadora do Instituto Catalão de Paleocologia Humana e Evolução Social (IPHES), na revista científica Journal of Human Evolution.

 

O trabalho foi realizado a partir de 75 restos de tartaruga encontrados na denominada Sima del Elefante, situada na jazida de Atapuerca. Oito deles apresentavam marcas que levaram os especialistas a concluir que haviam sido causadas pelos habitantes de mais de um milhão de anos, no Pleistoceno Inferior, quando tentavam alimentar-se da parte macia do animal, isto é, a carne e as vísceras, explicou a DICYT Blasco.

 

O fato de que somente se detectaram estes indícios em oito do total dos restos disponíveis deve-se a que normalmente os humanos que obtinham a carne da tartaruga não danificavam a estrutura óssea do animal, mas, no entanto, em algumas ocasiões raspavam essa parte do corpo com a ferramenta de pedra com a qual desprendiam a carne, revela.

 

Dois níveis

 

Estas descobertas foram encontradas em sucessivas campanhas de escavação em dois níveis da jazida, o que significa que os antigos moradores se alimentavam deste animal em dois períodos diferentes. “Cada nível destes corresponde a períodos distintos de formação da jazida. Isto quer dizer que durante ao menos dois episódios a dieta dos moradores incluía a tartaruga”, um animal utilizado como “um recurso a mais para obter nutrientes”, afirma.

 

Ainda que se saiba “muito pouco” sobre o que comiam os hominídeos deste período e que geralmente as pesquisas orientem-se aos grandes animais (cavalos, bovinos, cervídeos), dos que sabe-se que alimentavam-se, também existe a certeza de que faziam parte de sua dieta outros de menor tamanho como roedores, pássaros, coelhos ou, segundo este último artigo, tartarugas.

 

“Até pouco tempo, sobretudo, mencionou-se que a dieta (destes seres humanos) estava baseada em animais grandes, e em algumas jazidas é verdade que somente aparecem estes animais com evidências de processamento. Mas em outras jazidas tampouco se havia analisado bem estes pequenos animais e estou certa de que no momento em que comecem a revisar dados, concluir-se-á que também eram comidos”, manifestou.

 

Restos de tartaruga de características similares aos analisados no artigo foram encontrados em outro ponto de Atapuerca, como na Gran Dolina; além de outras jazidas do mesmo período da Europa, como a de Vallparadís (Barcelona), Barranco León e Fuente Nueva 3 (Granada), Grotte du Vallonet (França), Lézignan-le-Cèbe (França) e Pirro Nord (Italia), indica o artigo.

 

Processo de pesquisa

 

Uma vez encontrados os restos destes animais, os pesquisadores os levaram a um laboratório em que, após sua lavagem, foram analisados com a ajuda de uma lupa binocular de aumento ou um microscópio elétrico. Neste processo de laboratório realizado no ano passado sobre os 75 restos encontrados, fez-se este descobrimento sobre a dieta dos habitantes de Atapuerca.

 

O artigo está disponível na página web do Journal of Human Evolution desde o final de julho e foi publicado em edição impressa há alguns dias.