Salud Brasil Campinas, São Paulo, Jueves, 27 de junio de 2013 a las 10:37

Novo peptídeo pode ajudar no tratamento contra hipertensão

Um importante resultado que os pesquisadores obtiveram foi um efeito anti-hipertensivo de longa duração em ratos hipertensos, além de efeitos anti-fibróticos

Júlia Melare/ComCiência/Labjor/DICYT - A mais recente pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanobiofarmacêutica (INCT Nanobiofar) pode transformar o rumo das produções sobre hipertensão e diabetes. A equipe identificou a alamandina, um componente inédito no sistema renina-angiotensina que ocasiona a vasodilatação e outros efeitos que protegem o coração, semelhantes aos produzidos pela angiotensina-(1-7).

 

Segundo o coordenador do INCT Nanobiofar e professor da UFMG, Robson Santos, após testes clínicos a descoberta poderá formar uma nova classe de medicamentos, diferentes dos que já existem no mercado, sendo mais uma das ferramentas que poderão auxiliar no tratamento de doenças como a hipertensão. Será uma droga mais cara que o medicamento genérico, mas seu custo não deve ser proibitivo, sendo economicamente viável para fabricação e aquisição do consumidor. O remédio poderá ser produzido em cápsulas, que irão repor déficits existentes no organismo, ou mesmo na forma de um estimulador/ativador de enzima para a produção de peptídeos. Formado por aminoácidos, os peptídios são unidades estruturais das proteínas.

 

O sistema renina-angiotensina é composto por um conjunto de peptídeos, enzimas e receptores celulares envolvidos no controle da pressão arterial. Os peptídeos angiotensina I e angiotensina II circulam pelo sangue ativando suas estruturas-alvo, compostas por vasos sanguíneos, rins, coração, glândulas suprarrenais e o sistema nervoso simpático. Quando o organismo está sob condições de hipotensão (devido a uma hipovolemia, perda de plasma), as células dos rins liberam na corrente sanguínea uma enzima denominada renina.

 

A renina quebra o angiotensinogênio circulante inativo, que nada mais é do que uma proteína do sistema, transformando-o em angiotensina I. Ao passar pelos vasos pulmonares, a angiotensina I sofre a ação de uma enzima presente nas células endoteliais (internas aos vasos) que a transforma em angiotensina II. Ela causa vasoconstrição e se direciona para os rins pela corrente sanguínea, onde estimula a reabsorção de sódio e água, aumentando assim a volemia e, consequentemente, a pressão arterial. A angiotensina II também provoca a liberação do hormônio aldosterona no córtex das glândulas suprarrenais. Esse hormônio estimula ainda mais a absorção de sódio e água nos rins, contribuindo para o aumento da volemia e a da pressão arterial.

 

Nesse contexto, os cientistas resolveram pesquisar outro peptídeo que antagonizasse a si mesmo, ocasionando a queda da pressão arterial. E nisso descobriu-se a alamandina, um heptapeptídeo que é gerado pela ação catalítica da enzima conversora de angiotensina (a ECA) sobre ela própria e que produz várias ações fisiológicas como vasodilatação, anti-fibrose e anti-hipertensão, entre outros efeitos.

 

Um importante resultado que os pesquisadores obtiveram foi um efeito anti-hipertensivo de longa duração em ratos hipertensos, além de efeitos anti-fibróticos em ratos tratados com isoproterenol, mediante a administração oral de alamandina. Até então, sabia-se que os peptídeos administrados pela via oral tendem a ser digeridos no estômago por ação do suco gástrico, perdendo sua atividade biológica. Porém, os pesquisadores conseguiram que a alamandina passasse pelo estômago, chegando ilesa ao intestino delgado, usando uma capa de proteção de ciclodextrina.

 

Ainda de acordo com Santos, a próxima etapa será o teste clínico, que já foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pelo Comitê de Ética em pesquisa (Coep) da universidade mineira, mas ainda requer a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No estudo agudo, as pacientes que participarão dos testes serão gestantes com pré-eclâmpsia grave e com indicações para fazerem os estudos, de forma que a saúde do feto não seja prejudicada durante esse processo de experimentação. O objetivo é tentar normalizar o nível plasmático das mulheres e, caso a hipótese seja confirmada, o tratamento com alamandina será uma alternativa para regular a pressão arterial durante a gravidez.