O grupo de pesquisa CellMat cria bandejas biodegradáveis para guardar alimentos
Cristina G. Pedraz/DICYT Muitos supermercados já oferecem bolsas biodegradáveis fabricadas a partir de amido de batata e que têm a mesma utilidade das tradicionais de materiais como o polietileno (PE), que pode demorar mais de 150 anos para desaparecer. O grupo de pesquisa CellMat (Materiais Celulares) da Universidade de Valladolid deu um passo a frente e criou bandejas com esse bioplástico capazes de guardar produtos de curto ciclo de vida, como as frutas. Este avanço se inclui no Catálogo de Tecnologia Transferível elaborado pela Instituição acadêmica no marco do Projeto T-CUE para a transferência de conhecimento Universidade-Empresa.
O investigador da CellMat, Miguel Ángel Rodríguez, explicou a DiCYT que atualmente estas bandejas são fabricadas com espuma de poliestireno expandido (EPS), que “demoram 500 anos para degradar-se”. Ainda que existam formas de reciclagem baseadas em sua fundição para elaboração de nova matéria prima ou em sua queima para produção de energia, a obtenção do poliestireno expandido depende de um recurso escasso e de preço flutuante, como é o petróleo.
“A vantagem dos bioplásticos é que não dependem do petróleo, vêm do milho, da batata ou da beterraba. Além disso, degradam-se muito mais rápido, e por isso podem evitar o problema dos resíduos de plástico. As bolsas podiam ser jogadas ao contêiner dos alimentos e se degradariam da mesma maneira”, aponta o pesquisador, que também adverte algumas limitações.
Uma delas é o tipo de produto. Ainda que “em um ambiente natural onde não existem microorganismos demore muito em degradar-se”, a bandeja de amido não pode reservar produtos não perecíveis ou de longa duração. Da mesma forma, reservar alimentos com água e outros líquidos a deterioraria. “Desenvolvemos revestimentos, mas é muito difícil colocá-los e no total implicam maior custo”, afirma Rodríguez, de modo que a principal função destas bandejas se centraria em guardar produtos de curto clico de vida e sem umidade.
O custo é similar ao das bandejas de plástico convencionais. O grupo trabalha com amido e não com outros plásticos biodegradáveis como o ácido polilático (PLA), com o qual se fabricam, por exemplo, copos descartáveis, por ser o mais barato. O custo do amido é de aproximadamente 0,3 euros o quilo, sendo mais acessível inclusive que o polietileno, mas sua transformação é mais complexa, de forma que no final o preço “acaba sendo o mesmo”.
Na opinião do pesquisador, este tipo de bandejas biodegradáveis tem muito futuro, mas até que a legislação não obrigue a retirar as embalagens de plástico tradicionais, estas não serão plenamente implantadas. No entanto, hoje em dia o grupo tem as ferramentas necessárias para começar a comercializar bandejas de amido e já conta com um cliente.
Outras aplicações
Na mesma linha, o grupo direciona suas pesquisas ao uso de outros polímeros totalmente recicláveis e com aplicação na indústria, como os polihidroxibutiratos (PHB). Ainda que a tecnologia de transformação seja praticamente a mesma, as espumas de bioplástico são mais caras, o que, a despeito das vantagens ambientais, é um fator que prejudica seu desenvolvimento.
As espumas desenvolvidas pelo grupo têm aplicação também no isolamento térmico de edifícios, nos sistemas de transporte, na proteção de impactos (capacetes, joelheiras), na fabricação de peças mais leves e estruturas como painéis sanduíche ou peças automotivas e artigos flutuantes (artigos de natação, embarcações), na absorção e no isolamento acústico, nos isolamentos elétricos, nas superfícies antiderrapantes e na medicina.
Obtenção do amido
O amido é uma substancia obtida exclusivamente dos vegetais, que o sintetizam a partir do dióxido de carbono e da água absorvidos pelo solo. Nos cereais e tubérculos que o contém, o amido é encontrado nas células formando estruturas discretas, os grânulos de amido. Estes grânulos têm um tamanho de 2 a 1000 micra, dependendo do vegetal, ainda que um mesmo vegetal aparente certa heterogeneidade de tamanhos. Os grânulos de amido do arroz estão entre os menores, e os de amido da batata, entre os maiores. Dessa forma, as propriedades tecnológicas do amido dependerão muito da origem. Assim, o amido de milho ceroso produz géis claros e coesivos, enquanto o amido de trigo forma géis opacos. O amido de batata (conhecido geralmente como fécula) é facilmente hidratado, dando dispersões muito viscosas, mas em troca não produz géis. As propriedades comercialmente significativas do amido, tais como sua resistência mecânica e flexibilidade, dependerão, portanto, do tipo de planta.