Health Spain , Salamanca, Friday, March 09 of 2012, 14:07

Pesquisa-se o tratamento de alterações motoras no desenvolvimento de bebês

Cientistas da Universidade de Salamanca analisam os problemas de coordenação central produzidos, sobretudo, nos bebês prematuros

José Pichel Andrés/DICYT A Universidade de Salamanca está pesquisando o diagnóstico precoce e o tratamento de alterações motoras no desenvolvimento de bebês. Uma equipe da Escola Universitária de Enfermagem e Fisioterapia desenvolveu uma linha de pesquisa que pretende paliar algumas carências observadas na chamada coordenação central, que relaciona o Sistema Nervoso Central aos músculos executores de determinados movimentos.

 

Esta linha de pesquisa surgiu porque os cientistas observaram que não é comum realizar-se provas enfocadas no diagnóstico de deficiências no desenvolvimento psicomotor das crianças, segundo explica José Ignacio Calvo Arenillas, especialista em deficiência infantil que trabalha no Departamento de Física, Engenharia e Radiologia Médica da Universidade de Salamanca.

 

No entanto, muitos bebês apresentam alterações nas posturas e nos movimentos e, ainda que geralmente não se trate de transtornos importantes, “queremos que a coordenação central seja estruturada o quanto antes”, afirma o pesquisador. Estes problemas são apresentados com maior freqüência em bebês prematuros, que não manipulam bem as extremidades. “O modelo de desenvolvimento ideal não existe, porque sempre há algum pequeno transtorno, mas observamos que as crianças prematuras, ou com baixo peso, isso é, aquelas com menos de 37 semanas de gestação ou menos de 1.500 gramas, precisam de algum tipo de estímulo para poder integrar todas as funções encefálicas”, agrega.

 

Estas crianças não desfrutam sempre de uma reabilitação adequada e, por isso, a equipe de José Ignacio Calvo Arenillas procura oferecer tratamentos, ao mesmo tempo em que a prática clínica serve para avançar em sua pesquisa. “Há quatro anos dedicamos duas tardes por semana a este tipo de atividade”, comenta o cientista, que recebe os bebês enviados pelos pediatras e que está em contato com a Unidade de Neuropediatria do Hospital Universitário de Salamanca, tendo inclusive recebido casos procedentes de Portugal.

 

Nos bebês o encéfalo ainda pode ser moldado, e é esta parte do corpo que coordena os movimento, o que resulta muito importante para o sucesso deste tipo de terapia. “Um vez que ainda não está estruturado, podemos influenciá-lo através de uma técnica chamada Vojta, que funciona muito bem”, comenta o especialista.

 

Terapia Vojta

 

A terapia descoberta por Václav Vojta, neurologista e neuropediatra de origem checa, desenvolve os mecanismos automáticos de locomoção. “Utiliza dois reflexos básicos, que não se apresentam normalmente, mas devem ser estimulados, rastejar e regurgitar, ações que apresentam uma área de coordenação muito importante no sistema nervoso, de modo que “os demais reflexos estão subordinados a estes dois”. Os resultados são excelentes, de acordo com Calvo Arenillas: “Quando desenvolvem o reflexo, começam a utilizar suas capacidades normalmente”, afirma.

 

Sem entrar em detalhes, o pesquisador explica com um exemplo que a técnica está baseada na contração muscular dirigida aos pontos de apoio. “Quando caminhamos e apoiamos um dos pés, toda a contração dos demais músculos de nosso organismo se direciona a esse ponto para mantê-lo fixo e evitar quedas”, indica. Assim, neste caso, os pesquisadores estimulam o rastejamento (mover-se arrastando o corpo) segurando e apertando os pontos de apoio para direcionar a eles a contração. “Isto faz com que se produza um “imput” importante para organizar a musculatura até o cérebro, e logo um “output” para que este ponto de apoio não se mova”, afirma.

 

O objetivo dos pesquisadores da Escola de Enfermagem e Fisioterapia é criar uma unidade docente-assistencial que se encarregue deste tipo de serviço que exige, de momento, quatro fisioterapeutas e uma terapeuta ocupacional, os quais desenvolvem trabalhos de pesquisa neste campo, dentro de programas de doutorado e mestrado relacionados com as Neurociências e os transtornos de comunicação.

 

Concretamente, desenvolveu-se uma tese doutoral que comparou o desenvolvimento das crianças de peso normal, com crianças de baixo peso, utilizando uma escala estabelecida para medir o desenvolvimento motor. Um trabalho semelhante, ainda em desenvolvimento, enfoca-se em crianças com idade escolar (a partir de três anos) que possuam algum transtorno motor já diagnosticado. Graças à aquisição de um aparelho denominado eletromiógrafo, que serve para medir a atividade elétrica produzida pelos músculos esqueléticos, “tentaremos medir as condições dos músculos em um grupo que realiza a terapia Vojta e em outro grupo que realiza outra terapia convencional para comprovar as diferenças”.