Alimentación España , Valladolid, Lunes, 13 de abril de 2015 a las 16:40
INESPO II

Projeto espanhol documentará cerca de 50 000 cerâmicas da caverna de Els Trocs (Huesca)

Investigadores dirigidos pelo professor da Universidade de Valladolid Manuel Rojo Guerra registarão todo o material extraído nas distintas escavações realizadas desde 2009 no sítio neolítico

Cristina G. Pedraz/DICYT Cientistas do Grupo de Investigação da Pré-história Recente e Proto-história da Meseta Norte Espanhola, da Universidade de Valladolid, liderados pelo professor Manuel Rojo Guerra, trabalham em um projeto do Plano Nacional de Investigação 2013-2016 chamado de Os caminhos do Neolítico II: analítica e documentação, cujo objetivo principal é estudar e registar todo o material extraído nas várias escavações feitas desde 2009 na caverna de Els Trocs, na região da alta Ribagorza (Huesca), um sítio arqueológico neolítico de uns 7300 anos de antiguidade.


A iniciativa dá continuidade ao trabalho efetuado em uma versão preliminar do Plano Nacional de Investigação, Os caminhos do Neolítico I, desenvolvido entre 2010 e 2012. Segundo explica o professor Manuel Rojo Guerra, após mais de uma década de trabalho em torno do Neolítico no vale de Ambrona (Soria), no centro peninsular, surgiu a questão de como aquelas pessoas tinham chegado lá.


“Estas populações neolíticas vieram de algum lugar e as semelhanças da cultura material relembravam-nos às do vale do Ebro. Por isso, desenhámos o projeto Os caminhos do Neolítico, com a ideia de comprovar se realmente existiram caminhos reais ou fictícios para as pessoas chegarem ao interior peninsular com a nova forma de vida do Neolítico”, declara.


Na Pré-história as estradas passavam principalmente pelos rios. Portanto, no projeto planificou-se a possibilidade de estudar o Neolítico e a “neolitização” ao longo do vale do rio Ebro. “Planejámos três intervenções em três sítios diferentes, considerando todas as opções possíveis para a chegada do Neolítico para as terras do interior. Investigámos a caverna de Els Trocs (Huesca), nos Pirinéus; o abrigo de Artusia, em Unzué (Navarra); e o abrigo Valmayor XI, na barragem de Mequinenza (Zaragoza)”, explica Rojo.


No abrigo de Artusia (do 8500 ao 6000 antes de Cristo), com uma estratigrafia muito ampla, não se descobriu nenhuma vinculação entre os novos neolíticos e os epipaleolíticos e que lá moravam: toda a sequência foi mesolítica. No entanto, “neste abrigo obtivemos aspectos interessantes. Por exemplo, detectámos com muita certeza dois eventos climáticos muito importantes para o Holoceno, o 8.5 e o 8.2, dois eventos áridos que ainda não se tinham detetado claramente nas sequências dos sítios arqueológicos peninsulares, e observámos também como esses eventos tão secos influenciaram francamente a mudança cultural, no trânsito do Mesolítico de entalhes e denticulados para o Mesolítico geométrico”.


Por outro lado, Valmayor XI (de cerca de 5600-5000 a. C.) é um sítio arqueológico especial, pois fica imerso sob as águas da barragem de Mequinenza. Em 2009, a capacidade da barragem diminuiu para 46 %, revelando o abrigo. Os investigadores chegaram imediatamente e escavaram lá, mas essa foi a única vez. “Só pudemos escavar uma vez porque o nível da albufeira não voltou a cair. Aqui encontrámos uma sequência estratigráfica muito interessante, com um nível mesolítico, um nível mesolítico com cerâmica e um outro nível neolítico, e nota-se em certa medida essa interação”, afirma Rojo.


Vida transumante


Na caverna de Els Trocs, com um ambiente ecológico diferente, ao ficar nas montanhas, o que se tem observado é uma colonização real. “A primeira ocupação da caverna é do Neolítico e essas populações chegaram já bastante consolidadas, com um sistema de exploração do médio ambiente bastante desenvolvido: praticavam a transumância e apenas moravam lá na primavera; é por isso que dos mais de 23 000 ossos que localizámos entre 80 e 90 % pertence a ovinos e caprinos”, resume o responsável pela investigação.


Ao todo, desde 2009 houve cinco temporadas de escavações em Els Trocs em que participaram não só os investigadores da Universidade de Valladolid, mas também da Universidade Autónoma de Madrid, da Universidade do País Basco, alguns técnicos do Governo de Aragón e outros colaboradores, como arqueólogos profissionais e doutorandos.


As escavações foram financiadas com fundos do projeto do Plano Nacional e também da Fundação Alemã para a Investigação, do projecto Agriwestmed financiado pelo European Research Council e dirigido pela investigadora do CSIC Leonor Peña Chocarro, o Governo de Aragón e o Instituto de Promoção Cultural ‘Arcadia’, dirigido pelo próprio Manuel Rojo Guerra.


Os Caminhos do Neolítico II


O referido projeto Os caminhos do Neolítico II: analítica e documentação encarregar-se-á justamente de estudar e registar todo o material extraído na caverna de Els Trocs. Além da enorme quantidade de fauna ‘ovicáprida’ ―ovina e caprina―, na caverna pôde-se extrair ADN nuclear bem preservado e cerca de 50 000 fragmentos de cerâmica. “Ao chegarem os primeiros moradores àquela caverna fria e úmida, o que eles fizeram foi pavimentar em cerâmica todo o chão; portanto, nós encontrámo-nos várias camadas sobrepostas de cerâmica. Fizemos um cálculo dos fragmentos de peças decoradas e, provavelmente, tenhamos de desenhar cerca de 4000 peças”, assegura o investigador.


Por conseguinte, a ideia é utilizar um sistema diferente de documentação baseado em fotogrametria, uma técnica que permite determinar as propriedades geométricas de objetos e situações espaciais a partir de imagens fotográficas. Assim, em vez de desenhar à mão cada peça, representar-se-á o seu perfil e a imagem será sobreposta em três dimensões. “É um procedimento mais rápido e reflete fielmente os volumes”, conclui.