Teste prevê a resposta dos pacientes de mieloma múltiplo aos medicamentos
José Pichel Andrés/DICYT A empresa Vivia Biotech, localizada no Parque Científico da Universidade de Salamanca, está desenvolvendo um teste para antecipar a resposta dos pacientes que sofrem hemopatias aos distintos medicamentos indicados para seu tratamento. Particularmente, os testes mais avançados correspondem a compostos destinados a tratar o mieloma múltiplo, ainda que a mesma metodologia possa ser aplicada a outros tipos de câncer e outras doenças. Os primeiros testes poderiam ser comercializados antes do próximo verão.
A chave está em analisar de forma massiva a ação dos medicamentos sobre amostras biológicas dos pacientes graças a um sistema pioneiro patenteado nos Estados Unidos. “É uma plataforma tecnológica que permite testar muitos medicamentos ou combinações de medicamentos que atualmente são administrados aos pacientes”, explica em declarações a DiCYT Daniel Primo, responsável pelo laboratório da empresa localizado na Incubadora do Parque Científico.
Ainda que estas terapias já estejam sendo utilizadas, cada paciente e cada doença se comporta de forma distinta, de modo que não são úteis em todos os casos. Assim, “queremos levar ao mercado um teste que permita aos hematologistas decidir qual é a melhor combinação de medicamentos para cada paciente antes de receber o tratamento”, indica o especialista. O objetivo é “prever o que pode acontecer com o paciente”, o que, por exemplo, poderia evitar que um doente se submeta a quimioterapia quando não é necessário, com a conseqüente economia de custos ao sistema sanitário.
“Hoje em dia a grande maioria dos paciente responde bem aos medicamentos existentes, mas continua existindo uma porcentagem que sofre uma recaída ou não responde bem, e deveríamos selecioná-la para que antes do tratamento pudéssemos dizer quais são as melhores opções”, comenta Daniel Primo. Os testes ex vivo que permite este sistema são realizados a partir de amostras biológicas, como a de sangue, e em um período que pode variar entre 48 e 72 horas “somos capazes de ver qual foi a resposta das células do paciente no laboratório e transferir a informação ao hematologista”.
Os estudos começam a demonstrar que a expressão de certas proteínas pode influenciar na resposta do paciente. “Estamos vendo se existem determinados marcadores que ajudam a prever o comportamento diante dos medicamentos e o objetivo é integrar esta informação futuramente ao nosso teste”, agrega.
Base de dados
Ainda que estes testes possam ser realizados paciente por paciente, um dos objetivos é a criação de uma grande base de dados que permita comparar os resultados de todos os testes e determinar, assim, o tipo de resposta que pode oferecer cada medicamento. Neste sentido, a linha de pesquisa mais avançada corresponde ao mieloma múltiplo, no qual a empresa tem já informação de 150 pacientes que participaram de forma voluntária e informada dos testes.
A plataforma tecnológica está baseada na citometria de fluxo, técnica utilizada para analisar as células e que consiste em medir indicadores como a luz e a fluorescência ao fazê-las passar por um feixe de luz. Este método revela propriedades distintas em cada célula, dependendo de suas características. Desta maneira, neste caso é possível ver os efeitos de um medicamento sobre as células tumorais nos chamados testes de citotoxidade. “Expomos as células à morte celular e verificamos como respondem em um ambiente propício para que os medicamentos atuem e as eliminem”, indica o pesquisador, já que graças à plataforma tecnológica que utiliza é possível realizar estes testes ex vivo nas condições adequadas.
2.500 medicamentos testados
Vivia Biotech, que nasceu nos laboratórios da Faculdade de Medicina da Universidade de Salamanca e que possui oficinas em Madri e Málaga, testa compostos que já estão no mercado, de modo que já testou cerca de 2.500 medicamentos indicados para hemopatias como vários tipos de leucemias ou o mieloma múltiplo. Em colaboração com mais de 50 centros hospitalares e especialmente com o Serviço de Hematologia do Hospital Universitários de Salamanca, mas também com vários países europeus como Inglaterra, Itália e Alemanha. A idéia da empresa é comercializar o teste no mercado internacional, especialmente na Europa, Ásia e América Latina.
Daniel Primo destaca a importância de possuir em Salamanca um “hospital de referência internacional” no campo da Hematologia para este tipo de desenvolvimento, porque considera que se os hematologistas de prestigio que possui certificam o valor do teste, o produto recebe automaticamente um grande apoio para sua comercialização em centros de todo o mundo.