Ciencia España , Salamanca, Jueves, 19 de enero de 2012 a las 16:57

Dois meses de pesquisa nas águas do Atlântico

Barco Joides Resolution, com dois cientistas da Universidade de Salamanca, atracou no dia 17 de janeiro no porto de Lisboa após coletar dados para estudar as mudanças climáticas do passado

José Pichel Andrés/DICYT Após dois meses de navegação, no dia 17 de janeiro de 2012 chegou ao porto de Lisboa o barco Joides Resolution, responsável pela pesquisa oceanográfica mais importante do mundo. Para trás fica a Expedição Científica 339 do IODP (Integrated Ocean Drilling Program ou Programa Integrado de Perfuração Oceânica), que teve a maior participação de espanhóis de todos os tempos, dentro de uma das principais iniciativas de estudos geológicos do mundo. A Universidade de Salamanca aportou dois pesquisadores sênior, algo que nenhuma instituição acadêmica espanhola havia conseguido em uma expedição do IODP. José Abel Flores e Francisco Javier Sierro trabalharam com cientistas de várias nacionalidade para conhecer um pouco mais as mudanças climáticas do passado, analisando as profundezas oceânicas.

 

No entanto, a expedição não apenas serviu para pesquisar, mas também para divulgar a Ciência. Do barco foram organizadas videoconferências para escolas, universidades e museus de ciência de todo o mundo e, particularmente, os cientistas espanhóis colaboraram com a difusão de seu trabalho através do blog desenhado pela Agência DiCYT, “A bordo do Joides” (http://www.dicyt.com/blogs/joides/), no qual deixaram suas impressões todos os participantes espanhóis e alguns de outros países.

 

Desde que saíram das Ilhas Açores no dia 17 de novembro, os pesquisadores se dedicaram a coletar amostras e sedimentos do fundo do mar (conhecidas como “testemunhos”) em diferentes pontos do Golfo de Cádiz e da costa situada ao Sul de Portugal, graças à potente infra-estrutura de perfuração do Joides, que possui uma torre de 62 metros de altura, que permite atingir centenas ou milhares de metros de profundidade.

 

“É como uma viagem no tempo que nos permite ler os arquivos que ficaram gravados nos sedimentos do fundo”, comentou há alguns dias Francisco Javier Sierro em uma das postagens do blog. “Toda a informação é registrada em um computador a bordo, e dele é enviada diretamente, por satélite, ao Texas”, agregou.

 

O trabalho a bordo é muito difícil, seja qual for a especialidade de cada pesquisador. “Trabalha-se todos os dias, e em alguns dias nem mesmo é possível sair na cobertura para ver o sol ou a lua, não se tem as cervejas dos sábados de tarde, ou o relaxamento do domingo que rompe com a monotonia do passar do tempo”, explica. “A torre de perfuração não pára nunca, 24 horas ao dia. Somente em nosso turno das 12h da manha às 12h da noite, foram perfurados quase 300 metros, a cada 20 minutos coleta-se um testemunho novo” que é levado imediatamente aos laboratórios para análise.

 

José Abel Flores explicou que a expedição tinha dois objetivos claros: “um é a reconstrução climática aproximada do último milhão de anos em seqüências sedimentares marinhas, e o segundo estudar como produziu-se a comunicação entre o Atlântico e o Mediterrâneo, depois de um episódio de fechamento entre ambas bacias, e em que media este novo cenário deu lugar a variações de correntes, bem como a influência dessas águas mediterrâneas no Atlântico e, por fim, na dinâmica oceânica global”.

 

O chefe da expedição, Javier Hernández Molina, comentou os desafios desta aventura no Atlântico. “Os resultados obtidos até agora são de grande interesse científico, e como eles a equipe científica a bordo do Joides JR pretende responder a perguntas tão importantes para nosso entendimento dos processos climáticos passados e presentes, como: Quando começou a sair a massa de água através do Estreito de Gibraltar?; Como flutuou nos últimos milhões de anos?; Quais foram os efeitos climáticos devidos ao aporte de grandes volumes de água quente e carregada de sal no Atlântico Norte?; Qual é a espessura das camadas de areia geradas pelas massas de água mediterrânea?; Estas camadas poderiam ser um novo objetivo de interesse exploratório para gás e petróleo no futuro?”.

 

Francisco Jiménez-Espejo, cientista da Universidade de Granada que participa como membro da equipe IODP do Japão, afirmou que “quando os testemunhos de sedimentos são abertos, vêem-se camadas. Umas camadas de barro e outras de areia, com limites nítidos ou difusos. Quando se vê mais além detalhadamente, nota-se que a relação entre as camadas se repete ao longo de milhões de anos”. No entanto, “estou aqui para estudar um evento muito cálido e excepcional que aconteceu há pouco mais de um milhão de anos”.

 

Contudo, nem tudo é trabalho em um barco científico, ainda menos quando coincidem no caminho dadas natalinas. Por isso cientistas como Estefanía Llave, do Instituto Geológico e Mineiro da Espanha (IGME) e María Fernanda Sánchez Goñi, da Universidade de Burdeos (França), além de outros da pequena comunidade espanhola também a bordo, contaram que no Joides não faltou presunto, uvas, presentes e até uma garrafa de anis para fazer música e amenizar as festas ao estilo espanhol.