Especialistas em ‘Escherichia coli’ estão preocupados com portadores assintomáticos
JPA/DICYT Depois de passados os momentos mais graves do surto, com a morte de dezenas de pessoas na Alemanha, cientistas que estudam a bactéria Escherichia coli estão preocupados atualmente com os portadores assintomáticos da cepa mais virulenta deste microrganismo, já que algumas pessoas poderiam estar infectadas e transmiti-la durante meses sem apresentar sintomas, como explicou hoje Jorge Blanco, diretor do Laboratório de Referência em Escherichia coli do departamento de Microbiologia e Parasitologia da Faculdade de Veterinária da Universidade de Santiago de Compostela, com sede em Lugo, que participou no XXIII Congresso Nacional de Microbiologia, celebrado em Salamanca.
“Um dos problemas mais graves que existem é que estão sendo detectados portadores assintomáticos de longa duração”, afirmou o especialista espanhol em declarações à DiCYT. Por isso, os manipuladores de alimentos estão sendo controlados na Alemanha, já que se trata de um grupo de profissionais que poderia introduzir a bactéria na cadeia alimentar. Denomina-se portador assintomático ao indivíduo são, que não desenvolvem sintomas, mas que portam o microrganismo durantes semanas ou “talvez durante meses” no caso da E. coli.
Neste sentido, Jorge Blanco assegurou que “a bactéria chegará a Espanha e a outros países do mundo” por questões tão cotidianas como o turismo. “Chegam muitos alemães e alguns podem ser portadores assintomáticos, outra questão é como se manifestará a partir de agora, que é a grande pergunta, não sabemos se um surto, esperamos que não, porque já estamos avisados e sabemos o que deve ser feito”, afirmou.
A bactéria E. coli é muito conhecida pelos cientistas, mas a nova cepa que apareceu na Alemanha não, e que apresenta uma virulência fora do normal, de forma que, enquanto algumas pessoas não apresentam sintomas, outras sofrem uma falha renal aguda que leva à morte. No caso das cepas conhecidas até agora, os efeitos se reduzem a uma diarréia leve que não necessita tratamento médico.
Na conferência que ofereceu durante o Congresso Nacional de Microbiologia, Blanco analisou o surto na Alemanha, como atuaram os organismos europeus encarregados da vigilância epidemiológica e como está a situação na Espanha de acordo com um estudo realizado com hortaliças no mês de junho. “Em geral, a qualidade higiênica sanitária é muito boa, apesar de que sempre é possível que em um momento determinado apareça a E. coli, comentou.
O estudo se justifica porque havia poucos dados sobre hortaliças, uma vez que o reservatório mais importante até agora era o gado. Por isso, os cientistas colheram amostras de 160 hortaliças procedentes em sua maior parte de grandes cadeias comerciais e os resultados foram “muito bons”, já que “só detectamos E. coli em duas amostras em contagens muito baixas e a cepa virulenta não foi encontrada”. Uma das amostras infectadas com uma cepa de baixa virulência procedia de uma plantação familiar onde era utilizado esterco orgânico, isto é, fezes animais.
De qualquer forma, “a vigilância deve continuar, porque o que aconteceu na Alemnha pode ocorrer em qualquer momento em outro país”.
Blanco fez referência também ao alarme falsa sobre os pepinos espanhóis, indicando que “os políticos se adiantaram aos resultados de laboratório, quando teriam que ter esperado 24 ou 48 horas” para confirmar que a cepa de E. coli encontrada nos pepinos não correspondia à cepa virulenta.
“Impressionante” trabalho científico
De fato, o trabalho científico desenvolvido para caracterizar a nova cepa deste microrganismo “foi impressionante”, assegura, porque em menos de dois meses se determinou todo o seu genoma, sua resistência aos antibióticos ou como se originou e a maioria destes dados se deve ao trabalho dos grupos de pesquisa alemães. “Se este surto houvesse ocorrido na Espanha, possivelmente teríamos tido mais problemas porque não existe uma estrutura de laboratórios tão forte como ali”, confessa.
Do ponto de vista científico, algo mudou. “Haverá um antes e um depois, temos a cepa altamente virulenta que teremos que classificar em uma categoria especial”, assegura. “Junto com a Alemanha trabalhamos todos os especialistas a nível mundial e conseguimos agilizar o processo de forma impressionante, a partir de agora temos que comunicar os dados imediatamente”, declara.
Ademais, “esta cepa é extraordinariamente preocupante e as medidas de vigilância devem ser extremas”. Com relação ao consumidor, o conselho é lavar bem as verduras frescas ou cozinhas os alimentos.