Health Spain , Salamanca, Thursday, April 27 of 2006, 12:00

"Trabalhamos há 20 anos em um modelo matemático que explique a capacidade infecciosa dos vírus"

O cientista colombiano fará amanhã a conferência inaugural do Centro de Pesquisas de Doenças Tropicais da Universidade de Salamanca

AVPR/DICYT Dedicou mais de 28 anos da sua vida à pesquisa, concepção e desenvolvimento de vacinas sintéticas, deixando aproximadamente 274 publicações científicas nas revistas de maior índice de impacto a nível internacional, mas o doutor Manuel Elkin Patarroyo é muito mais conhecido pela sua atitude quixotesca. Em 1992, o criador da primeira vacina sintética contra a malária enfrentou as indústrias farmacêuticas cedendo a patente da sua descoberta à Organização Mundial da Saúde. Uma atitude que lhe valeu ao mesmo tempo as qualidades de “filantropo” e de “louco”, e sobre a qual se sustenta também o seu novo projeto: “a descoberta da vacina sintética contra a malária nos animou a pesquisar os mecanismos utilizados pelos vírus para infectar uma célula qualquer.” É então que nos percebemos que por trás da Biologia e da Física existe um modelo matemático que pode nos mostrar segredos para conceber vacinas à medida.

 

Um projeto tão aliciante como inatingível que lhe valeu novamente as qualidades anteriores. ”Sou consciente de que enquanto estiver vivo poderei desenvolver no máximo três ou quatro vacinas. Por isso nos centramos no estudo dos fundamentos que explicam a capacidade invasiva de um vírus, porque conhecendo estes mecanismos deixamos escritas, não somente os segredos para o desenvolvimento de vacinas específicas para cada uma das 517 doenças virais conhecidas, como também a fórmula para que as ditas vacinas sejam mais eficazes.”

Entretanto, apesar do que se custe em admitir, as repercussões que podem derivar destes estudos vão bastante mais além. Identificar um modelo matemático através do qual se explique o mecanismo de atuação dos vírus será um primeiro passo no desenvolvimento de uma hipotética vacina contra o HIV. O vírus da AIDS se caracteriza pela sua alta capacidade de mutação, podendo-se afirmar que não se está perante apenas uma doença, senão diante de inúmeras doenças, tantas quanto indivíduos infectados. Para isso, a descoberta de um modelo matemático que permita a biólogos e clínicos indagar sobre quais são os mecanismos que cada cepa do vírus utiliza para se introduzir nas células do indivíduo, representaria um grande progresso na hora de conceber uma vacina eficaz para suas inúmeras variedades. Uma elucubração válida, no presente e nas próximas décadas, apenas em teoria.


Uma ajuda inestimável

O desafio a que se propôs este carismático cientista o mantém a meio caminho entre o laboratório e a floresta amazônica, onde se encontra o primata que lhe serve como modelo para o estudo dos processos infecciosos próprios do vírus da malária. Um caminho diário no qual se cruzaram a cidade de Salamanca e o centro de Pesquisas em Doenças Tropicais (Ciset), dirigido pelo professor da Universidade de Salamanca António Muro. “Minha presença como orador na conferência inaugural do centro é um incidente”, comenta Manuel Elkin Patarroyo, que acrescenta que “o que realmente importa é que uma universidade de um país desenvolvido investe recursos e conhecimento pesquisando doenças próprias de países sub-desenvolvidos, o que é digno de meu reconhecimento.”
 

 

Três anos de trabalho em suas costas

 

O Ciset, cujo reconhecimento como centro próprio da Universidade de Salamanca pode obrigá-lo a mudar seu nome adotando a sigla Cietus (Centro de Investigación de Enfermedades tropicales de la Universidad de Salamanca), inicia oficialmente sua atividade amanhã, sexta-feira, com 40 pesquisadores doutorados das faculdades de Medicina, Farmácia e Biologia da Universidade de Salamanca.

 

“Atualmente”, explica seu diretor, António Muro, “nossa atividade se reparte em quatro linhas de pesquisa principais: a geração de vacinas, especialmente contra a fascíola e a esquistosomose; a concepção de ferramentas de diagnóstico, desenvolvimento e obtenção de fármacos contra a malária e a leishmania e, em quarto lugar, a planificação de microarrays (métodos de diagnóstico) para o diagnóstico da esquistosomosis; Além das linhas de pesquisa mencionadas, o Centro de Pesquisas de Salamanca de Doenças Tropicais tornou-se um centro de referência nacional para o diagnóstico de doenças tropicais a partir de amostras sorológicas.

 

Aos laboratórios do Ciset chegam amostras procedentes de toda a Espanha, mas, de acordo com Muro, “é preciso enfatizar que as patologias que detectamos na maioria dos imigrantes que chegam a nosso país não têm nada a ver com as que padecem os turistas provenientes de zonas tropicais. Enquanto que entre os imigrantes são mais comuns as doenças parasitárias (como as filarias) endêmicas em seus países de origem, no caso dos viajantes as patologias estão quase sempre relacionadas às infecções virais ou bacterianas (malária ou diarréia do viajante) contraídas no destino turístico”.