Ciencias Sociales Brasil Campinas, São Paulo, Viernes, 07 de noviembre de 2014 a las 10:41

Jogo controlado é alternativa para tratamento de jogadores patológicos jovens

Quando o jogo deixa de ser uma diversão e começa a interferir no cotidiano, é o momento para se buscar ajuda psicológica

Gabriele Adabo/ComCiência/Labjor/DICYT Os jogos fazem parte do lazer de muitas pessoas e geram a sensação de prazer. No entanto, para os jogadores patológicos, os jogos de azar podem se converter em um vício. A atividade torna-se, por exemplo, fonte de preocupação excessiva, leva ao comprometimento de relações familiares e com amigos, a perda de oportunidades de trabalho e grandes somas de dinheiro, entre outros sintomas que podem indicar que a pessoa apresenta problemas com o jogo. Um estudo, publicado por pesquisadores da Universidade do País Basco no periódico chileno Terapia Psicológica, pôs em revisão os tratamentos usados para o vício em jogo e concluiu que o jogo controlado pode ser uma alternativa aos jovens e àqueles nos quais a dependência ainda não se apresenta de forma tão severa.

 

No artigo, escrito por Enrique Echeburúa, Karmele Salaberría e Marisol Cruz-Sáezerría, os pesquisadores afirmam ser o jogo patológico uma forma de adicção sem que haja a presença de nenhuma droga. O jogador patológico perde o controle sobre o ato de jogar e cria dependência do jogo, o que gera interferência grave em seu cotidiano. Apesar de ser uma doença que traz consequências para o jogador patológico e às pessoas próximas, apenas 10% dos viciados em jogos estão em tratamento. A escassa motivação dessas pessoas durante o tratamento e as altas taxas de abandono, que variam de 15 a 30%, segundo os pesquisadores, têm levado à discussão sobre se a abstinência, objetivo terapêutico tradicionalmente empregado, seria a forma mais adequada de tratar o distúrbio.

 

Outra constatação que reforça a possibilidade de se empregar a atividade controlada, de acordo com os autores, é a de que há jogadores patológicos que foram tratados com êxito e jogam esporadicamente sem voltar ao vício. “Trata-se, assim, de oferecer uma opção de tratamento que seja mais sugestiva a atrair pacientes para a terapia, mantê-los em tratamento e evitar um maior número de recaídas”, concluem os pesquisadores com base nos estudos analisados por eles.

 

Os autores do artigo ressaltam, no entanto, que, até o momento da publicação, os resultados empíricos obtidos pelos pesquisadores não demonstravam que a adoção do jogo controlado superava em êxito a terapia na qual se impunha a abstinência. O principal problema, segundo eles, parece residir na falta de clareza quanto à definição de jogo controlado e a quais pacientes essa tática é mais adequada. Para que haja sucesso no tratamento, os pesquisadores afirmam que é preciso detalhar o que se entende por jogo controlado com relação a fatores como o limite de tempo e dinheiro, os dias nos quais se pode jogar, se o jogo é solitário ou em companhia, a motivação – se a pessoa joga para divertir-se e interagir com os amigos, por exemplo, ou para fugir de um estado de ânimo negativo ou, ainda, para solucionar problemas econômicos –, entre outros aspectos.

 

Com relação a quais pacientes a adoção do jogo controlado como forma de tratamento seria mais eficiente os pesquisadores afirmam (apesar de ressaltarem a necessidade de haver estudos posteriores para melhor definir a questão) que o procedimento seria mais indicado aos chamados “jogadores problemáticos”, os quais ficariam mais motivados a aderirem ao tratamento com a inclusão dessa proposta. Jogadores problemáticos seria aqueles que apresentam dificuldades na sua rotina diária por causa do jogo, como contrair dívidas, mentir etc, mas que não apresentam dependência tão severa quanto os diagnosticados como jogadores patológicos.

 

No entanto, para os jogadores patológicos propriamente ditos, esse tratamento não seria recomendado. “Deste modo, se poderia contar com uma “caixa de ferramentas” terapêutica, na qual as intervenções breves com a meta do controle do jogo podem induzir ao tratamento, facilitar a disposição para a mudança e reduzir o risco de dependência em jogadores problemáticos e em jogadores mais jovens”, concluem.

 

Os pesquisadores colocam os programas de abstinência como uma alternativa específica para jogadores patológicos e pacientes que fracassam em um programa de jogo controlado. “Nesse último caso, pode-se contar com uma motivação adicional: a consciência adquirida de que o estabelecimento de limites no jogo não é uma alternativa válida nesse caso”, afirmam no artigo.