Cultura Brasil Campinas, São Paulo, Jueves, 14 de octubre de 2010 a las 14:50
População brasileira

Migrantes mudam de perfil e têm mais anos de estudo

A análise foi realizada tendo como base documentos e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Carolina Octaviano/ComCiência/Labjor/DICYT A ideia comum de que o migrante é aquele sujeito sem estudo e que se muda necessariamente para os lugares mais ricos está sendo confrontada. Uma pesquisa constatou que os migrantes têm mais anos de estudo que os não migrantes e que aquele que se muda dá preferência a regiões mais próximas às de sua origem em detrimento de outros centros mais desenvolvidos. As conclusões são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que aponta que 18,1% dos migrantes têm mais do que 12 anos de estudo, enquanto apenas 13,8% dos não migrantes estudaram tanto. De acordo com o Instituto, pode ser constatada uma mudança de perfil dos migrantes brasileiros: “Interessante observar que a alta escolaridade do migrante (considerada como 12 ou mais anos de estudo) aumenta nos anos analisados. É verdade que o mesmo acontece entre os não migrantes, mas o ritmo é menor. Não há razão para não se levantar a hipótese de que a escolarização aumenta a probabilidade de migração”, diz o comunicado emitido pelo órgão de pesquisa.

 

A análise foi realizada tendo como base documentos e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de quatro diferentes anos (1995, 2001, 2005 e 2008) e revelou também que os migrantes advindos da região Nordeste para o Sudeste do país já estão em melhor situação em termos de formalização do trabalho, sendo que 40,9% deles se encontram em regime de trabalho informal. “Uma primeira constatação é de que a informalidade tem caído sistemicamente em todo território nacional, tanto entre os não migrantes quanto entre os migrantes”, ressalta o comunicado. Entre os anos analisados, percebe-se ainda que a taxa de desemprego dos migrantes é sempre maior do que a dos não migrantes, o que mostra uma maior capacidade do morador de ter sucesso na sua procura por emprego.

 

O estudo também afirma que os migrantes trabalham mais. Entre os migrantes, 41% trabalha mais de 45 horas por semana, contra 34,2% dos não migrantes. E aponta também para uma melhoria no salário médio que, no geral, é maior do que o daqueles que não migraram. Enquanto os migrantes recebem uma média de R$1.204,93, o salário dos não migrantes ficou em cerca de R$968,61.

 

No entanto, de acordo com o comunicado, “quando se olha mais de perto para os grupos é possível constatar algumas variações no tempo e no espaço. Os migrantes que entraram no Sudeste entre 1990 e 1995 e entre 1996 e 2001, por exemplo, não conseguiram superar o salário dos não migrantes do Sudeste. O mesmo aconteceu no primeiro período para os que entraram no Centro Oeste”.

 

Pode-se observar também uma queda no número de migrações entre os anos recortados pela pesquisa. Em 1995, os migrantes eram aproximadamente 4 milhões de pessoas ou 3% da população brasileira. Já em 2008, esse número caiu para 3,3 milhões, representando 1,9% do total de pessoas que vivem no Brasil. De acordo com o estudo, 60% do total de migrantes estão no Nordeste e no Sudeste brasileiro. E, contrariando o senso comum, o estudo apresenta dados que comprovam que fluxos migratórios não se dão mais necessariamente em direção para os pontos mais ricos do país, mas há pólos de atração regionais. Seria uma mudança no perfil migratório, mas também na própria dinâmica em que as migrações ocorrem. “É possível observar, por exemplo, que a migração do Norte é maior para o Nordeste do que para o Sudeste. A ideia comum de exportação da pobreza de regiões menos desenvolvidas para outras de maior poder e dinamismo econômico deve sofrer, então, restrições, ou melhor, qualificações, já que a proximidade também é um fator relevante para explicar os fluxos”, afirma o comunicado. “A ideia de que a migração significa pobreza é parcial e só se aplica de forma relativa em casos precisos e contextualizados”, conclui o estudo.