Alimentación España , Salamanca, Jueves, 19 de junio de 2014 a las 18:19

Novos dados da conexão entre o Mediterrâneo e o Atlântico

A revista ‘Science’ publica os primeiros resultados de uma pesquisa no Golfo de Cádiz da qual participaram José Abel Flores e Francisco Sierro da Universidade de Salamanca

José Pichel Andrés/DICYT Entre novembro de 2011 e janeiro de 2012, o barco de pesquisa oceanográfica mais importante do mundo, o Joides Resolution, navegou pelo Golfo de Cádiz e pela costa situada ao Sul de Portugal em busca de sedimentos marinhos que ajudassem a explicar a história dos intercâmbios de águas entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico através do Estreito de Gibraltar, um fenômeno com numerosas implicações para o estudo do clima. Desde então, os cientistas vêm analisando os dados e, como resultado, a revista Science publica os primeiros resultados desta expedição, da qual participaram José Abel Flores e Francisco Sierro, pesquisadores da Universidade de Salamanca.

Este trabalho “vem a confirmar que o Mediterrâneo e o Atlântico estão conectados desde menos de seis milhões de anos”, explica José Abel Flores em declarações à DiCYT, ainda que a interação mais significativa não tenha sido estabelecida até finais do Plioceno, há cerca de três milhões de anos. Anteriormente, a passagem esteve fechada durante centenas de milênios. O aspecto mais significativo da corrente entre as duas bacias é que o Mediterrâneo verte ao oceano uma grande quantidade de água, mais salgada e cálida, e, consequentemente, mais densa, que se funde e vê-se compensada em menor medida pela entrada de águas mais superficiais em sentido contrário.

Graças à Expedição 339 do Integrated Ocean Drilling Project (IODP), Mediterranean Outflow, conhece-se agora muito mais detalhes de uma relação essencial para entender o clima do Hemisfério Norte. O intercâmbio que acontece no Estreito de Gibraltar, que verte águas mais salgadas e cálidas ao Atlântico, influi na circulação das correntes oceânicas, marcada por sua densidade, que depende precisamente da salinidade e da temperatura. Este fenômeno influi na evaporação das águas oceânicas e, consequentemente, nas precipitações, que determinam o caudal dos rios da bacia mediterrânea e, por sua vez, isto condiciona o desembocamento de águas no Atlântico. Estudar este complexo equilíbrio é fundamental para entender o clima e sua evolução ao longo de milhões de anos.

Fósseis microscópicos

As contribuições dos cientistas da Universidade de Salamanca estão centradas no campo da Micropaleontologia. Precisamente, Francisco Javier Sierro é micropaleontólogo especializado em foraminíferos, animais microscópicos pertencentes ao zooplâncton, além de realizar trabalhos de geoquímica. Por sua vez, José Abel Flores é especialista em nanofósseis calcários. O trabalho de um navio como o Joides consiste em resgatar sedimentos dos fundos marinhos que podem estar a milhares de metros de profundidade e a análise dos microfósseis que contêm é essencial para datá-los rapidamente. Isto é, o tipo de fósseis que há no lugar oferece muita informação. “Dá uma ideia das idades e serve para caracterizar ambientes”, assinala o pesquisador da Universidade de Salamanca.

 

Outro aspecto fundamental é que “a corrente de fundo sofre erosão e acumula sedimentos”, comenta José Abel Flores. A água do Mediterrâneo, mais densa, funde-se a mais de 1.000 metros de profundidade, escavando o fundo e gerando fendas profundas. Em outros pontos, o material transportado gera montanhas de lama e areia. Estes sedimentos são chamados de contornitas, porque as correntes que produzem estes depósitos seguem o contorno das contas marinhas e, para os cientistas, constituem um grande arquivo no qual estão registradas a variabilidade climática e a atividade tectônica, neste caso, dos últimos 5.3 milhões de anos.

Hidrocarbonetos

O fenômeno das areias contorníticas é muito mais importante do que os cientistas esperavam e a camada de areia estende-se cerca de 100 quilômetros a partir do Estreito de Gibraltar. Esta nova informação é outra das grandes contribuições desta pesquisa, sobretudo do ponto de vista econômico, já que estas areias são o ambiente ideal para a acumulação de hidrocarbonetos e de gás. “São areias limpas e porosas capazes de acumular fluidos cobertos de argilas e podem armazenar grandes volumes de hidrocarbonetos”, comenta o cientista do Grupo de Geociências Oceânicas da Universidade de Salamanca. “O Golfo de Cádiz constitui a referência para a definição de sedimentos contorníticos em outros pontos do planeta de onde as companhias petrolíferas podem estar interessadas em realizar perfurações, é de onde melhor se conhece este tipo de sedimento”, acrescenta. Estas areias estão depositadas de uma forma muito diferente do esperado, de maneira que estas descobertas são muito importantes para administrações e empresas.

Por outro lado, outro aspecto importante estudado pelos pesquisadores de Salamanca é a existência de hiatos ou ausências na sedimentação, que estão relacionados com eventos das placas tectônicas. Este trabalho também ajuda a entender a relação que existe entre o clima, muito dependente do oceano, e os deslocamentos das placas tectônicas, que podem modificá-lo.

Apesar da importância de publicar este trabalho na Science, o artigo é somente “a primeira pincelada” de todo este trabalho. Precisamente, na semana passada os pesquisadores da Universidade de Salamanca e seus companheiros naquela expedição participaram de um encontro científico em Tarifa no qual as próximas publicações foram projetadas, especialmente, com relação ao clima recente do Hemisfério Norte no último milhão de anos.

 

Participação excepcional da Universidade de Salamanca

 

Da viagem, que partiu das Ilhas de Açores e terminou em Lisboa depois de dois meses, participaram 35 cientistas de 14 nacionalidades. O fato de que uma mesma universidade contribuía com dois cientistas em uma missão IODP é excepcional e pode ser explicado pela especialização em microfósseis de José Abel Flores e Francisco Sierro. Além disso, Javier Hernández-Molina, professor da Universidade de Vigo, foi o chefe da expedição. A participação espanhola completou-se com Francisco Jiménez-Espejo, do Instituto Andaluz de Ciências da Terra (centro do CSIC e da Universidade de Granada), e Estefanía Llave Barranco, do Instituto Geológico e Minerador da Espanha (IGME), na qualidade de observadora de águas nacionais. Tudo isso desenha uma participação inédita de cinco cientistas espanhóis além de dois outros pesquisadores que trabalham na França e no Japão e vieram representar seus países.

Os cientistas colaboraram com a divulgação de seu trabalho através do blog da Agência DiCYT, 'A bordo do Joides', onde todos os participantes espanhóis e alguns de outros países deixaram suas impressões. Além disso, a chegada do barco a Lisboa foi uma oportunidade para que estudantes e professores de Salamanca viessem conhecer o principal barco de pesquisa oceanográfica do mundo.

 

Referência bibliográfica  

 

Onset of Mediterranean outflow into the North Atlantic. F. Javier Hernández-Molinaarrik A. V. Stow, Carlos A. Alvarez-Zarikian, Gary Acton, André Bahr, Barbara Balestra, Emmanuelle Ducassou, Roger Flood, José-Abel Flores, Satoshi Furota, Patrick Grunert, David Hodell, Francisco Jimenez-Espejo, Jin Kyoung Kim, Lawrence Krissek, Junichiro Kuroda, Baohua Li, Estefania Llave, Johanna Lofi, Lucas Lourens, Madeline Miller, Futoshi Nanayama, Naohisa Nishida, Carl Richter, Cristina Roque, Hélder Pereira, Maria Fernanda Sanchez Goñi, Francisco J. Sierro, Arun Deo Singh, Craig Sloss, Yasuhiro Takashimizu, Alexandrina Tzanova, Antje Voelker, Trevor Williams, Chuang Xuan.
Science 13 June 2014: Vol. 344 no. 6189 pp. 1244-1250
DOI: 10.1126/science.1251306