Alimentación España , Valladolid, Miércoles, 10 de febrero de 2010 a las 15:44

“A intensidade de um terremoto pode ser dois ou três graus maior dependendo da geologia do terreno”

O professor de Geomorfologia e Geofísica da Universidade de Salamanca Pablo Silva dá hoje uma conferência no Museu da Ciência de Valladolid

CGP/DICYT Um terremoto tem um único valor de magnitude, que é o tamanho físico da energia liberada, mas sua intensidade (como ele é sentido) pode variar dependendo de diversos fatores, como a geologia do terreno no qual se produz. Este será um dos aspectos que abordará Pablo Silva Barroso, professor de Geomorfologia e Geofísica da Universidade de Salamanca, quem hoje dá a partir das 19 horas no Museu da Ciência de Valladolid a conferência “Terremotos: o pulso da Terra e seu impacto na sociedade”.

 

Como adiantou o especialista em declarações a DiCYT, aproveitando o ocorrido no Haiti serão abordados os desencadeadores naturais que originam um terremoto, ou seja, a própria sísmica, assim como os não-naturais, baseados “na má-qualidade das edificações ou no efeito de amplificação do terremoto”, razão pela qual a intensidade pode ser aumentada em vários graus. Neste sentido, precisou que no Haiti “se conjugou uma série de efeitos naturais que não se podem evitar e outros não-naturais que, se tivessem sido previstos, a catástrofe não teria sido de tal tamanho”.

 

O professor detalhará durante a conferência quais são as escalas de magnitude e intensidades que se utilizam para medir os tamanhos dos terremotos e os efeitos que condicionam sua intensidade, que é “como as pessoas o sentem, o que ocorre com as edificações e os efeitos sobre o terreno” com relação “de quão próximo esteja o epicentro ou o de que tipo são os materiais geológicos sobre os quais estão edificadas as populações”.

 

Efeito amplificador

 

A geologia do terreno é um ponto-chave para que seja produzido o chamado “efeito amplificador” do terremoto. “Não é o mesmo ter uma casa construída sobre uma rocha firme que sobre um preenchimento artificial”, explica Silva, que destaca o exemplo do México. “Os espanhóis assorearam os lagos que aí havia para edificar a cidade e no terremoto de 1985 todos os edifícios que estavam dentro desta zona sofreram grandes danos, enquanto que a escassos 30 ou 40 metros de distância, os que estavam construídos sobre a rocha não sofreram nada”.

 

Da mesma forma, um preenchimento natural de uma baía ou um delta conta com materiais sem cimentar e muita água, razão pela qual “a falta de compactação do terreno amplifica o terremoto”. Algo parecido ocorre em zonas litorâneas e em várzeas fluviais, onde “as ondas sísmicas se amplificam ao entrar nestes materiais, e o resultado é uma maior intensidade”.

 

O professor se centrará também nos níveis sísmicos atuais da península Ibérica e nos últimos terremotos importantes ocorridos na Região de Murcia, como os de Mula (2000), Bullas (2002) e La Paca (2005). Também lembrará outros terremotos históricos como o de Zamora (949), Carmona (1504), Lisboa (1775), Torrevieja (1829), ou Arenas del Rey (1884); ao mesmo tempo revisará as novas disciplinas, a Paleosismologia e a Arqueosismologia, que ajudaram a trazer à luz terremotos antigos até agora desconhecidos. Todos estes terremotos tiveram intensidade de 10 (da mesma ordem do haitiano) e uma magnitude estimada entre 6’5, 6’9 ou 7 graus. Também na Espanha, os grandes danos sofridos estavam relacionados aos efeitos de amplificação do terreno.

 

Escassa compactação de materiais e deslizamentos

 

A escassa compactação de materiais aumentou a intensidade do de Torrevieja, zona “que era um mar interior e que foi preenchida no século XVIL”, enquanto que no de Arenas del Rey estavam envolvidos outros fatores como “os deslizamentos do terreno”. Neste lugar os deslizamentos são ativos também nos dias de hoje e qualquer sacudida sísmica “alimenta estes deslizamentos e os ativa”. “O nível sísmico pode ser pequeno mas se existem outros processos naturais estes podem causar um dano maior que a própria sacudida sísmica”, adverte.

 

No caso de Salamanca, por exemplo, “se a zona fosse sismicamente ativa, toda a parte da cidade que está construída no vale sofreria uma sacudida sísmica dois ou três graus superior a toda a parte alta que está construída sobre as rochas silícicas”, assegura o especialista.