Ciencias Sociales España , Valladolid, Jueves, 02 de enero de 2014 a las 10:28

Lançado com sucesso o satélite que cartografará a Via Láctea

Valladolid recebeu a retransmissão ao vivo do lançamento do GAIA em uma das três jornadas nacionais respaldadas pela ESA

UNED/CGP/DICYT A Aula Magna da nova Faculdade de Ciências da Universidade de Valladolid foi o cenário, no dia 19 de dezembro, da retransmissão ao vivo do lançamento do satélite GAIA, uma missão com fins científicos desenvolvida pela Agencia Espacial Europeia (ESA, em inglês). Pontual e sem nenhum contratempo, o satélite foi lançado a bordo do lançador Soyuz-Fregat do Puerto Espacial Europeu, na Guiana Francesa. Passadas as 10.12 horas, o “GPS” mais preciso da galáxia começou sua viagem até o ponto Lagrange 2, localizado a 1’5 milhões de quilômetros de distância de nosso planeta.

 

“O principal objetivo do GAIA é fazer um mapa em três dimensiones de 1% das estrelas da galáxia. Ainda que pareça pouco, estamos falando de bilhões de estrelas”, explica à DiCYT Abel Calle, responsável pela Secção de Física da Universidade de Valladolid e organizador da jornada, que recorda que a missão tem também “objetivos relacionados com a procura de exoplanetas e com a análise e a observação de asteroides”.

 

Assim, a finalidade da missão é principalmente astrométrica, como a geração de um catálogo de bilhões de estrelas, a localização e caracterização das anãs marrons (massas subestelares), a procura de exoplanetas (que não pertencem ao Sistema Solar), o estudo dos asteroides e testar alguns resultados da Teoria da Relatividade.

 

A Jornada realizada na Universidade de Valladolid foi uma das três retransmissões ao vivo do lançamento do satélite que contou com o respaldo da ESA, junto com as de Madri e Barcelona. “Graças à boa relação da Seção de Física com a ESA conseguimos que viesse um representante da Agência, César García, para realizar um ato científico e de divulgação sobre a missão”, indica Abel Calle.

 

O objetivo, enfatiza, “foi trazer o mundo da tecnologia de vanguarda, como é o caso da missão lançada no dia 19, de alta complexidade científica, ao âmbito universitário”.

 

Grande resolução

 

O satélite chegará ao seu destino em um mês e no trajeto “ligará seus instrumentos e começaremos a receber dados sobre medições de ângulos”, explica José Hernández, Engenheiro de Operações e Calibração do GAIA da ESA. De sua localização, o satélite terá a estabilidade necessária para poder medir as distancias e movimentos de bilhões de estrelas da Via Láctea com uma exatidão histórica: se o GAIA estivesse na Terra seria capaz de medir o polegar de uma pessoa localizada na superfície lunar.

 

Suas observações permitirão desenhar um mapa tridimensional das estrelas que compõem nossa galáxia de uma forma bastante representativa, já que será capaz de cartografar 1% da população estrelar com uma margem de erro muito pequena, algo sem precedentes. “O GAIA trará grandes avanços na compreensão da imensidão que nos rodeia”, recalca Luis Sarro Baro, pesquisador do departamento de Inteligência Artificial da Universidade Nacional de Educação a Distancia (UNED) e líder dos cinco cientistas da UNED que participam do projeto.

 

O satélite possui dois telescópios direcionados à áreas diferentes do céu para medir simultaneamente a posição das estrelas dessas duas regiões. A luz coletada chegará a um mesmo plano focal, formado por um mosaico de 106 CCD (Charge Coupled Devices), que forma a retina do GAIA. Sua resolução, de 1 bilhão de pixels, é a maior conseguida do cosmos. Uma antena eletrônica será a encarregada de que toda a informação chegue à Terra.

 

Protegendo esta tecnologia de ponta, um guarda-sol de dez metros de diâmetro abrirá suas asas, o que evitará que os raios do Sol cheguem aos dispositivos e possam trabalhar a uma temperatura constante de -110°C. Diferentes empresas espanholas participaram na construção destes instrumentos de vanguarda, com uma contribuição superior a 11% no conjunto da missão.

 

Participação da antena de Cebreros (Ávila)

 

A cada seis meses, o GAIA observará toda a esfera celeste e se focará em cada astro mais de 70 vezes ao longo dos cinco anos de duração do projeto. O satélite se comunicará com a Terra uma média de oito horas por dia e enviará diariamente 50 Gigabytes de dados às antenas localizadas em Nova Norcia (Austrália) e em Cebreros (Ávila).

 

A informação que chegar a Cebreros será reenviada ao Centro Europeu de Astronomia Espacial (ESAC), que a enviará, por sua vez, ao consorcio DPAC (Consorcio para o Processamento e Análise dos Dados), distribuído por diferentes pontos da Europa e do qual fazem parte 440 pesquisadores, mais de 10% espanhóis.

 

“Em todos os campos da astrofísica –exceto na observação solar– haverá uma contribuição do GAIA”, assegura Jordi Torra, pesquisador principal do GAIA na Espanha e catedrático da Universidade de Barcelona. Isto inclui a matéria escura, que conforma 90% da galáxia e continua sendo o grande enigma dos cientistas. Acredita-se que o GAIA proporcionará informação sobre como está distribuída.

 

Os pesquisadores calculam que em dois anos teremos os primeiros dados científicos da missão e, no ano 2022, estará pronto o catálogo final do GAIA. Este conterá mais de 1 Petabyte de informação, o que se traduz em 200.000 DVD, que os astrofísicos do futuro terão que analisar e interpretar. Estes dados serão públicos e acessíveis a toda comunidade científica.

 

Mas antes de tudo, em julho do ano que vem, os cientistas começarão a analisar as observações que o GAIA tenha feito dos polos eclípticos –os pontos da esfera celeste que estão acima e abaixo do plano contido nas órbitas do sistema solar–. “Observará esta área para calibrar os instrumentos. Será a primeira que captará”, afirma Sarro Baro.

 

Colaboração espanhola

 

A missão é o resultado de duas décadas de trabalho e dela participam instituições espanholas como a UNED, a Universidade de Barcelona (ICCUB-IEEC), as universidades de La Coruña, Cádiz e Pablo de Olavide (Sevilla), o Centro de Astrobiologia (CSIC-INTA), CESCA e Barcelona Supercomputing Center, além de uma longa lista de empresas aeronáuticas. Seu custo foi de 650 milhões de euros, o que significa que cada cidadão dos países que a integram tiveram que investir um pouco mais de um euro.