Ciencias Sociales España , Salamanca, Martes, 20 de marzo de 2012 a las 14:20

“Já não se pode dizer que a cidadania é irrelevante para definir as políticas científicas”

Pesquisador do CSIC explica em Salamanca pontos chaves das entrevistas de opinião pública sobre políticas científicas

JPA/DICYT Luis Sanz Menéndez, pesquisador do Instituto de Políticas e Bens Públicos do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), discutiu no dia 15 de março em Salamanca o apoio dos cidadãos às políticas de ciência e tecnologia. Há algumas décadas, somente uma pequena parte da população interessada nestas questões determinava as políticas, enquanto atualmente há uma maior influência do conjunto da cidadania, apesar de que a designação dos recursos não está relacionada com a percepção pública.

 

O especialista do CSIC participou de um seminário de pesquisa organizado pelo Instituto de Estudos da Ciência e Tecnologia (eCyT) da Universidade de Salamanca para explicar os sistemas de coleta de informação baseados em entrevistas de opinião pública. A última grande consulta foi a “Entrevista Nacional de Percepção Social da Ciência e Tecnologia” realizada pela Fundação Espanhola para a Ciência e Tecnologia (Fecyt) em 2010, e que revelava como o interesse pela ciência dos cidadãos, em plena crise, aumentava, mostrando-se estes partidários por incrementar seu financiamento.

 

Neste tipo de entrevista pergunta-se aos cidadãos “quando acreditam que se gasta muito, o necessário, ou pouco com ciência e tecnologia, ou se estão a favor ou contra os cortes”, indica o pesquisador. Diante deste tipo de questões, deve-se considerar que “os cidadãos têm um desajuste no balanço fiscal”, afirma o especialista, no sentido de que “apóiam mais políticas das que estão dispostos a financiar”. Por essa razão, as entrevistas devem ser complementadas com perguntas sobre preferência de gasto público, apresentando ao interrogado o dilema de escolher entre estradas, ciência ou segurança, por exemplo.

 

Ainda que seja complicado definir o perfil do cidadão, que apóia as políticas sobre ciência, há uma correlação entre algumas variáveis, por exemplo, “quanto maior o nível de educação dos cidadãos, estes escolhem políticas relacionadas com a ciência como área de política pública para gastar mais dinheiro”, indica Luis Sanz. O grau de interesse pela ciência ou a crença de que produz resultados positivos para a sociedade, também se relaciona com esse apoio.

 

O pesquisador analisa atualmente quais variáveis justificam o “aumento extraordinário” do número de pessoas que preferem apoiar políticas de ciência em plena crise econômica, segundo a entrevista de 2010. “Veremos na entrevista de 2012 se a evolução da crise prejudicou esta atitude dos cidadãos”, afirma.

 

As explicações podem ser diversas: talvez a população coloque suas esperanças em algo que desconhece ou, talvez, tenha-se convencido de que o modelo econômico anterior, pouco baseado na inovação, foi o que provocou a crise. Ademais, a relevância dos recortes em ciência podem tornar os cidadãos mais sensíveis no momento de reinvidicá-la”, enfatiza. No entanto, também é destacável que estas entrevistas normalmente não incorporam dados já conhecidos, como a preferência geral por políticas sociais relacionadas com pensões, saúde e educação. Do ponto de vista dos poderes públicos, as entrevistas são um elemento informativo a mais, mas na hora da verdade “o desenho das políticas é feito em outro nível”, adverte Luis Sanz.

 

Papel das entrevistas

 

Em todos os casos, “atualmente o sistema de ciência tem um público atento, que representa 20% da população, e que pode determinar como se fazem as políticas, enquanto há alguns anos os cidadãos eram irrelevantes”, afirma. No entanto, “com o passar do tempo, e devido a algumas questões especialmente polêmicas sobre a percepção dos resultados e os efeitos da ciência na sociedade, a situação mudou”, comenta. Por exemplo, “se os cidadãos se opõem à clonagem através de entrevistas, os governos devem pensar se apóiam abertamente esse tipo de pesquisa”.

 

De uma forma sutil “a opinião pública serve para legitimar estratégias dos grupos que definem a designação de prioridades” e serve para que os governos possam vetar alguns tipos de pesquisa que não correspondem à ideologia de suas bases sociais, como ocorreu nos Estados Unidos com os governos conservadores e as células-tronco.

 

Definitivamente, a opinião atua como um “termostato” que regula a estratégia dos políticos, mas a “ciência é um dos âmbitos em que isso ocorre muito pouco”, de modo que a designação de recursos não depende dos cidadãos, “é política das elites e as elites e as massas têm papéis distintos”.